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Dólar fecha em alta contra real com fiscal doméstico ofuscando apetite por risco global

03/11/2020 17h09

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta contra o real nesta terça-feira, com a cautela em relação ao cenário fiscal doméstico ofuscando o apetite global por ativos de risco em meio à precificação de uma vitória democrata nas acirradas eleições norte-americanas.

A moeda norte-americana à vista subiu 0,39%, a 5,7609 reais na venda, depois de ter chegado a tocar 5,6496 reais na mínima do dia, queda de mais de 1,5%.

O dólar futuro de maior liquidez, que é negociado até as 18h, tinha alta de 0,30%, a 5,768 reais.

Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, o real teve "performance aquém de seus pares emergentes em razão de preocupações com o cenário fiscal brasileiro".

Declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na segunda-feira de que está preocupado e pessimista com o calendário desorganizado do governo para as pautas que deveriam ser votadas ajudou a elevar a cautela entre os investidores locais, disse Rostagno.

"Nosso tempo já passou", disse Maia em live promovida pelo jornal Valor Econômico, afirmando que o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 pode ser votado até dezembro, mas o projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) do próximo ano, não.

Dando ainda mais evidência à pauta fiscal, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta terça-feira o termo "notícias fiscais" ao falar da inclinação recente na curva de juros. Mais cedo, o BC frisou na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) estar atento à piora do quadro fiscal e suas implicações para a política monetária.

"Essa é uma sinalização importante, que mostra a pouca tolerância do BC com a flexibilização na prática do teto de gastos", disseram em nota analistas da Levante Investimentos.

Dúvidas sobre como o governo financiaria um projeto de auxílio econômico diante de um Orçamento apertado têm dominado o radar dos operadores domésticos, que temem um possível furo no teto de gastos.

Colaborando para a busca por segurança, Luciano Rostagno citou a "incorporação do movimento de ontem, que não foi um bom dia para mercados emergentes". Os mercados financeiros brasileiros permaneceram fechados na segunda-feira devido ao feriado do Dia de Finados.

Apesar da retomada de algum terreno da moeda norte-americana frente à brasileira, o dólar operava em forte queda contra uma cesta das principais moedas, refletindo a vantagem do candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, nas últimas pesquisas eleitorais.

Em uma pesquisa nacional, Biden apresentou liderança na segunda-feira, com 52% das intenções de voto, enquanto casas de apostas britânicas apontaram nesta terça-feira para chances de mais de 60% de uma vitória democrata.

Embora "ainda não (seja) possível definir um resultado concreto", o time econômico da Guide Investimentos destacou em nota que "um mercado aparentemente mais otimista segue avaliando como boas as chances de uma 'onda azul', onde os democratas levam, além da presidência, a maioria nas Casas do Legislativo -–fato que auxiliaria na transição mais rápida do poder e, como consequência, a aprovação mais rápida de novos estímulos econômicos na maior economia do mundo."

Desde que um pacote anterior de estímulo econômico expirou, ao final de julho, a Casa Branca e o Congresso dos EUA têm falhado em alcançar um acordo sobre novas medidas de auxílio fiscal, enquanto o partido republicano de Trump --que domina o Senado-- segue relutante em aprovar os gastos emergenciais trilionários desejados pelos parlamentares democratas.

Uma pesquisa da Reuters mostrou que as moedas da América Latina devem avançar ligeiramente com uma potencial vitória democrata, mas desafios domésticos continuarão a pesar após uma retomada inicial.

Em meio a um ambiente de pouca segurança fiscal e juros extremamente baixos, o dólar acumula salto de quase 44% contra o real em 2020.