IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Dólar tem forte queda ante real de olho em disputa eleitoral apertada nos EUA

04/11/2020 17h14

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em forte queda contra o real nesta quarta-feira, marcada por grande incerteza em relação à disputa eleitoral norte-americana entre o atual presidente, Donald Trump, e seu adversário democrata, Joe Biden, deixando os investidores à espera de um resultado claro sobre quem será o próximo líder da maior economia do mundo.

Mesmo sem a contabilização de todos os votos e sem previsão concreta de quando haverá um vencedor definitivo, Trump afirmou que ganhou e irá à Suprema Corte para lutar pela vitória se necessário. Ele também afirmou nesta quarta-feira que cédulas "depositadas ilegalmente" não devem ser consideradas, e sua campanha ingressou com uma ação em Michigan para interromper a contagem de votos no Estado.

Seu adversário, Joe Biden, declarou estar otimista sobre a vitória e pediu que todos os votos sejam contados, sem importar quanto tempo isso irá levar.

Em meio a esse cenário, o dólar registrou queda de 1,80%, a 5,657 reais, seu menor patamar para encerramento desde 26 de outubro (5,6121) e sua maior desvalorização diária desde 28 de agosto (-2,927%).

Na B3, o dólar futuro de maior liquidez caía 1,70%, a 5,6640 reais.

Contra uma cesta das principais moedas, o dólar tinha alta de cerca de 0,3%, cedendo algum terreno depois de ter disparado mais de 1,2% nas negociações overnight.

O peso mexicano e o rand sul-africano, dois dos principais pares do real, se recuperavam, saltando cerca de 0,6% e 1,2%, respectivamente, depois de terem caído mais cedo.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, destacou a performance superior do real em relação a seus pares emergentes, o que atribuiu à falta de confirmação de uma ampla vantagem de Biden contra Trump --cenário que era projetado por boa parte dos mercados.

Ainda que uma "onda azul", em que os democratas conquistariam a Casa Branca e uma maioria parlamentar, seja vista como um cenário positivo para ativos arriscados, principalmente devido à maior probabilidade de aprovação de novos estímulos fiscais nos EUA, o discurso de Trump está bem mais alinhado ao do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse Rostagno.

Já Roberto Motta, responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos, argumentou que mesmo uma vitória de Biden poderia ter resultados positivos para o Brasil, uma tendência que vários analistas têm projetado para os mercados emergentes mais amplos.

"A plataforma do Biden será de gerar gastos de bilhões de dólares em infraestrutura, impulsionar a compra de commodities" e melhorar as relações comerciais dos Estados Unidos, disse, acrescentando que o fato de o Brasil ser a maior economia da América Latina seria motivo para uma aproximação de Biden, com suas divergências políticas em relação a Bolsonaro ficando em segundo plano.

Até o momento, a maioria dos especialistas citou a possibilidade de uma judicialização do resultado das eleições como o principal risco no curto prazo, uma vez que esse cenário prolongaria a incerteza sobre quem assumirá a chefia da Casa Branca.

Enquanto isso, "tudo leva a crer que passada a concentração de atenção na eleição americana, ganhará dimensão maior no mundo a 'retomada' da crise da pandemia em seu segundo ciclo e as medidas de 'lockdown' e reações", disse Sidnei Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora. "No Brasil aflorarão as discussões políticas em torno da crise fiscal, no primeiro momento."

As dúvidas sobre como o governo financiaria um programa de assistência social sem furar o teto de gastos têm concentrado as atenções dos investidores locais, que também seguem descontentes com o caminhar da agenda de reformas estruturais.

Esse cenário, somado ao patamar extremamente baixo da taxa Selic e a um crescimento econômico fraco, contribuem para deixar o dólar em alta de quase 41% contra o real no ano de 2020.

No lado positivo, analistas citavam como promissora a notícia de que o Senado aprovou na terça-feira a proposta que confere autonomia formal ao Banco Central, de forma a garantir que a instituição possa atuar sem risco de interferência político-partidária. O Bradesco disse em nota que a autonomia "deve contribuir para reduzir a volatilidade macroeconômica no Brasil".

A proposta segue agora para apreciação da Câmara dos Deputados.