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Parlamentares reagem a suspensão de testes de CoronaVac, querem ouvir Anvisa e Butantan

10/11/2020 15h10

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - A suspensão dos testes com a vacina CoronaVac pela Anvisa e a comemoração do presidente Jair Bolsonaro ao classificar a interrupção como uma vitória, provocaram reações no Congresso Nacional, que pretende ouvir ainda nesta semana o diretor-presidente do órgão regulador, Antonio Barra Torres, e Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, que promove os testes da vacina chinesa.

O presidente da comissão mista que acompanha as ações do governo relacionadas ao enfrentamento da crise do coronavírus, senador Confúcio Moura (MDB-RO), convocou reunião para a quarta-feira para a votação de requerimentos de convite e convocação dos representantes da Anvisa e do Butantan, um deles do próprio senador. A expectativa de Moura é que eles possam ser ouvidos na sexta-feira.

"Já discutimos muito sobre a natureza das vacinas, a necessidade delas para o mundo e para o país, e neste momento nós não podemos permitir de maneira nenhuma que se politize uma das vacinas. Todas serão bem-vindas para o país e para o mundo. Vamos discutir e na sexta-feira uma audiência pública, convidado o Instituto Butantan e a Anvisa", disse o presidente da comissão.

Autor de outro requerimento, o líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), afirmou em publicação no Twitter que "a saúde das pessoa não é brincadeira" e que a "politização da vacina é algo inaceitável".

"Estamos convocando o presidente da Anvisa p/ prestar esclarecimentos sobre a suspensão dos estudos envolvendo a CoronaVac. A comissão reunirá ainda essa semana, respondendo à urgência do tema. A vacina salvará vidas e essa é nossa prioridade!", disse, na rede social.

"A vida do povo deve ser prioridade e por isso estamos exigindo explicações concretas à Anvisa!", afirmou, em outra postagem.

Autor de outro requerimento a ser apreciado na quarta-feira para ouvir Covas e Torres, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), pondera que é "natural" e "desejável" que as interrupções ocorram sempre que necessárias.

"No entanto, não é aceitável que possíveis disputas políticas possam atrasar uma medida tão aguardada como a distribuição da vacina que, esperamos, poderá facilitar e impulsionar a normalização da situação de calamidade que enfrentamos no momento", diz o senador no requerimento.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária interrompeu os testes no país da CoronaVac, vacina contra a Covid-19 da chinesa Sinovac, após a ocorrência de um evento adverso grave com um voluntário. Ao responder pergunta de um seguidor em rede social, Bolsonaro postou link de um artigo sobre a suspensão dos testes e afirmou: "Mais uma que Jair Bolsonaro ganha."

As reações não se limitaram à comissão mista. O líder da Minoria na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), protocolou requerimento de informações ao ministro da Saúde sobre a decisão da Anvisa, como o Instituto Butantan foi informado e quais os motivos que embasaram a suspensão.

O requerimento também questiona porque a agência não optou pela interrupção dos testes da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, também em testes no país, que registrou a morte de um voluntário brasileiro.

"Vivemos a maior pandemia de saúde do século, contabilizamos mais de 160 mil mortos e os efeitos econômicos da paralisação das atividades já são devastadores. O mundo inteiro aguarda ansiosamente a vacina para o combate ao Covid-19, e nesse momento crucial, o governo brasileiro age como se a vida das pessoas fosse objeto de disputa eleitoral. Irresponsabilidade! Absurdo! Então, solicitamos as informações contidas nesse requerimento para melhor esclarecimento do tema", diz o requerimento.

No Twitter, a líder do PCdoB na Câmara, Perpétua Almeida (AC), considerou a situação "muito grave" e alertou que caso haja comprovação de motivação política ou ideológica para a interrupção dos testes, "o Congresso tem duas providências imediatas a tomar: cassar o mandato do presidente da Anvisa e abrir o processo de impeachment contra Bolsonaro".

"'Evento adverso grave' é ver o presidente colocar em risco a saúde dos brasileiros por disputa política, ao comemorar decisão da Anvisa de suspender estudos da vacina Sinovac/Butantan. Mesquinho, Bolsonaro só pensa em eleição e enlameia reputação de respeitada instituição nacional", publicou a deputada na rede social.

Por meio de nota, o líder do Cidadania na Câmara, Arnaldo Jardim (SP), considerou a publicação de Bolsonaro "inconsequente".

"É assim que classificamos a declaração do presidente da República, ao comemorar a suspensão pela Anvisa dos testes com a vacina que pode salvar a vida de milhões de pessoas. Além de desprezar a ciência, Bolsonaro se comporta de maneira antiética e desprezível. Longe da estatura exigida para um chefe de governo de um país gigante como o Brasil", avaliou o líder.

O evento adverso que levou Anvisa a suspender os testes foi o suicídio de um voluntário, disse à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto.

Em coletiva nesta terça-feira, o diretor-presidente do órgão regulatório, Antonio Barra Torres afirmou que a decisão era a única a ser tomada a fim de obter informações necessárias para a autorização ou não da continuidade dos trabalhos.