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Grupo de empresas e organizações aponta governo como maior responsável por ilegalidades no mercado de madeira

19/11/2020 22h17

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - A Coalizão Clima, formada por representantes de organizações de defesa do meio ambiente e empresas brasileiras ligadas ao agronegócio e ao setor financeiro, divulgaram nesta quinta-feira uma carta em que apontam o governo federal como um dos principais responsáveis pelas ilegalidades que dominam o mercado de madeira no país.

Depois de o presidente Jair Bolsonaro ameaçar apontar países e empresas estrangeiras como corresponsáveis pelo mercado ilegal de madeira no país ao importar os produtos brasileiros --o que terminou por desistir de fazer--, a carta da Coalizão Clima aponta que o Brasil perde uma oportunidade de ter um ambiente de negócios no qual a lei é de fato aplicada e de promover uma economia que gere benefícios econonômicos e ambientais.

"Mas o maior obstáculo a esse modelo é, justamente, a insegurança jurídica causada pela falta de fiscalização e comando e controle pelo Estado", diz a carta.

O grupo, que tem entre seus participantes organizações ambientais como WWF e Imazon e empresas como Klabin, JBS, Marfrig e Natura, entre outras, em um total de 262 empresas e organizações, lembra que levantamentos recentes mostram que 90% do desmatamento o Brasil é ilegal e esse índice é semelhante o da exploração florestal.

Além disso, a maior parte da madeira saída da Amazônia, mais de 90%, é consumida dentro do próprio país, e não exportada.

"Nenhuma parte das cadeias de produção, dentro e fora do país, pode se declarar livre do problema da ilegalidade, seja ela uma empresa, comércio, consumidor e, obviamente, o governo. Se, juntas, essas partes apostarem em uma solução e atuação conjunta, todos ganham. Mas basta um desses elos não cumprir com seu papel que todos perdem", diz a carta.

"O Brasil dispõe de conhecimento, informações e experiência suficientes para eliminar imediatamente a ilegalidade de sua produção e ir além. Mas isso só será possível quando todos os setores, públicos e privados, integrarem esforços, cooperarem e assumirem sua responsabilidade neste desafio".

Na terça-feira, em discurso na reunião do grupo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics), o presidente afirmou que investigações da Polícia Federal permitiram identificar os países que comprariam madeira ilegal do Brasil. Ao longo da semana, repetiu a ameaça e afirmou que revelaria empresas e países em live nesta quinta, mas recuou.

"A gente não vai acusar nenhum país de cometer crime ou de ser conivente com um crime, mas temos nomes de empresas que fazem isso, e que poderiam estar nos ajudando a combater esse ilícito", afirmou.