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Com tabela defasada, 2022 deve ser pior ano do Minha Casa Minha Vida, diz MRV

Com a inflação alta, famílias de renda mais baixa não conseguem mais se enquadrar no programa - Eduardo Anizelli/Folhapress
Com a inflação alta, famílias de renda mais baixa não conseguem mais se enquadrar no programa Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

17/01/2022 18h13Atualizada em 17/01/2022 18h33

A habitação popular no Brasil deve ter em 2022 o pior ano em mais de uma década devido à inação do governo federal em reajustar os valores da tabela do programa Casa Verde e Amarela, que ficou defasada com a escalada da inflação, disse Rafael Menin, copresidente da construtora MRV&Co.

"Se não houver atualização nas regras de renda, vai ser o pior ano do programa desde o início do Minha Casa Minha Vida", disse Menin em entrevista à Reuters nesta segunda-feira.

Segundo o executivo, famílias que se enquadravam nas faixas de renda mais baixas do programa — lançado em 2009 pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva e rebatizado no governo Jair Bolsonaro — não mais conseguem se habilitar porque sua renda ficou defasada em relação aos preços dos imóveis.

"O resultado é que o mercado ficou muito mais seletivo nos projetos e muito do dinheiro que seria usado para financiar o programa acabou ficando empoçado", afirmou Menin, mostrando-se com poucas esperanças de que haja uma correção significativa da tabela do programa ainda neste ano.

De fato, o braço da MRV responsável por imóveis populares foi o de mais fraco desempenho no quarto trimestre, segundo os dados operacionais divulgados nesta segunda-feira. Ainda assim, a companhia mineira teve recordes em lançamentos e vendas, dado principalmente o desempenho da AHS, unidade do grupo nos Estados Unidos.

De outubro a dezembro, os lançamentos totais da MRV&Co somaram R$ 3,24 bilhões, alta de 52,4% sobre mesma etapa de 2020. Enquanto a divisão MRV ficou praticamente estável, a AHS passou de zero para R$ 1 bilhão em lançamentos.

Nas vendas, o consolidado ficou em R$ 2,4 bilhões, aumento de 18% ano a ano, com queda de 16,2% na divisão MRV, que viu o preço médio por apartamento subir 4,7%, para R$ 169 mil. Na AHS houve saltos de 184,4% nas vendas, para R$ 771 milhões, e de 129% nas unidades vendidas, para 590.

A companhia encerrou o quarto trimestre com queima de caixa de R$ 128 milhões, após R$ 174,2 milhões de geração um ano antes. A unidade MRV teve consumo de quase R$ 250 milhões de caixa enquanto a AHS gerou R$ 107,5 milhões, alta de 15,3% ante o quarto trimestre de 2020. A Lugo, que constrói imóveis para alugar, teve geração de caixa de R$ 64,1 milhões, revertendo resultado negativo de R$ 12,4 milhões um ano antes.

No período, a companhia também fez acordo para vender para a Brookfield cerca de 5.100 unidades da Luggo, representando um valor geral de vendas (VGV) de R$ 1,26 bilhão.

Para Menin, esse perfil de resultados deve se prolongar durante este ano, dado que o cenário macroeconômico adverso no Brasil deve limitar a recuperação de seu negócio principal, o que também deve seguir pressionando a margem bruta.

IPO

A perspectiva de crescente participação da AHS no resultado consolidado deve reforçar o plano do grupo de fazer uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) nos Estados Unidos em 2023, disse Menin, dada a maior liquidez do mercado de ações naquele país. Isso também permitirá maior comparabilidade com empresas do mesmo setor no ambiente global, afirmou.

"Temos esse negócio, a AHS, que ainda não é adequadamente precificado pelo mercado, na nossa opinião. Uma listagem nos Estados Unidos pode destravar valor", completou.