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Incerteza sobre câmbio é a mais elevada desde 2018 com eleição no horizonte e piora do exterior

Com alguns recuos no meio do caminho, a curva de volatilidade tem subido desde janeiro - Getty Images/iStockphoto
Com alguns recuos no meio do caminho, a curva de volatilidade tem subido desde janeiro Imagem: Getty Images/iStockphoto

José de Castro

25/05/2022 16h15

A percepção de incerteza sobre os rumos da taxa de câmbio segue em alta a despeito do alívio recente na cotação do dólar, com analistas citando desde a política monetária norte-americana quanto as eleições locais como elementos a manter posições defensivas no mercado cambial.

Uma medida da volatilidade implícita nas opções de dólar/real para seis meses cravou 21 nesta quarta-feira, maior valor desde setembro de 2018. Com alguns recuos no meio do caminho, a curva de volatilidade tem subido desde janeiro.

A volatilidade implícita para três meses está em 19,59, próxima de picos desde janeiro do ano passado. O real tem a terceira maior volatilidade implícita entre seus principais pares emergentes, atrás apenas de rublo russo, que sofreu os choques da guerra da Rússia na Ucrânia, e lira da Turquia, país que está rapidamente consumindo suas reservas internacionais.

O dólar à vista era cotado em torno de 4,82 reais nesta quarta-feira e estava 5,2% acima da cotação mínima do ano, de 4,5820 reais, tocada em 5 de abril. Ainda caía, contudo, 15,8% desde o pico de 5,7260 reais alcançado em 6 de janeiro. A moeda brasileira vem numa montanha-russa e foi uma das que mais sofreram desde 20 de abril, quando um fortalecimento global do dólar alvejou divisas emergentes.

A política monetária norte-americana, que deve ficar ainda mais apertada, e problemas na China são as razões principais para os recentes movimentos de depreciação do câmbio, segundo analistas. Mas no plano local a eleição deve ganhar cada vez mais espaço e adicionar um componente de incerteza.

"O cenário externo difícil e as eleições que se aproximam provavelmente manterão o real numa faixa estreita, com um viés de enfraquecimento", disse em nota Bertrand Delgado, estrategista do Société Générale.

"Mantemos nossa visão de que um dólar forte, elevada volatilidade nos ativos, as próximas eleições e as preocupações com os riscos fiscais locais provavelmente prejudicarão o real", completou. O SG estima dólar de 5,45 reais ao fim de 2022.

O Bradesco divulgou estudo em que também cita receios sobre as contas públicas como fator a manter o real desvalorizado em relação ao que vê como taxa "justa", que com base em dois modelos estaria entre 4,40 reais e 4,50 reais por dólar.

"Apesar de os modelos indicarem apreciação do Real, acreditamos que existem vetores para ambas as direções e que há uma incerteza acima da usual para essa variável", disseram Rafael Martins Murrer, Henrique Monteiro de Souza Rangel e Fabiana D'Atri no estudo.

Em relatório deste mês, o BTG Pactual chamou atenção para o risco de os problemas fiscais tornarem o juro brasileiro —cuja alta é vista como um dos fatores de suporte ao câmbio— menos atrativo.

"Os riscos fiscais voltaram ao protagonismo do debate econômico doméstico, com a questão dos reajustes salariais dos servidores ainda indefinida", disseram analistas do banco.

"Entendemos que a definição de novos compromissos para o governo podem contratar novos movimentos de depreciação do Real", completaram, adicionando que mantêm previsão de dólar a 4,80 reais ao fim do ano, mas com balanço de risco "mais pessimista" na margem.