IPCA sobe mais que o esperado e estoura teto da meta em 2022 com alta de 5,79%
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação ao consumidor do Brasil fechou 2022 com alta acumulada de 5,79% e superou o teto da meta pelo segundo ano seguido, com um resultado acima do esperado, pressionada principalmente por alimentação.
O resultado do IPCA nos 12 meses até dezembro de 2022 ficou bem abaixo da taxa de 10,06% vista em 2021, mas superou a expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 5,60% e o teto do objetivo do governo, que é de 3,5% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Em dezembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,62%, também além do esperado, de acordo com os dados do IBGE divulgados nesta terça-feira.
As expectativas de analistas em pesquisa da Reuters eram de alta de 0,45% no mês, acumulando em 12 meses 5,60%.
Com isso, o Banco Central terá que divulgar uma carta explicando os motivos de o objetivo não ter sido cumprido ao novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O documento será publicado às 18h30, segundo o BC, e será a sétima carta desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999.
Embora o aumento dos preços dê sinais de desaceleração -- em novembro o IPCA subiu 0,41% e em 12 meses tinha alta de 5,9% -- o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia o seu terceiro mandato com preocupações sobre a inflação.
ALIMENTAÇÃO
Em 2022 o maior peso no bolso dos consumidores partiu da alta acumulada de 11,64% do grupo Alimentação e bebidas, influenciada principalmente pelo avanço de 13,23% na alimentação em domicílio -- somente a cebola teve alta de 130,14%, a mais elevada entre os 377 subitens que compõem o IPCA.
"Isso (alta de alimentos) tem a ver com questões climáticas, custos de produção, oferta de produção e efeito da guerra entre Rússia e Ucrânia", explicou o coordenador do IBGE André Felipe Guedes.
Em seguida, os custos de Saúde e cuidados pessoais subiram 11,43%. A maior variação no ano, entretanto, foi registrada pelo grupo Vestuário, cujos preços tiveram alta de 18,02%.
Por outro lado, Transportes tiveram queda de 1,29%, sendo que os custos da gasolina caíram 25,78% no ano passado.
A inflação no Brasil foi ponto de atenção ao longo do ano passado, levando o então governo de Jair Bolsonaro a articular com o Congresso medidas para contê-la, como a redução da alíquota de ICMS sobre combustíveis, energia e telecomunicações, além de corte de impostos federais.
Os impactos disso, no entanto, já se dissiparam e não estarão presentes em 2023, podendo haver efeito contrário, de pressão sobre os preços, se as desonerações forem revertidas.
PRESSÃO
No último mês do ano passado, todos os grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA tiveram alta, com destaque para Saúde e cuidados pessoais (1,60%) e Vestuário (1,52%). A inflação de serviços, por sua vez, acelerou a 0,44%, de 0,13% em novembro, acumulando em 12 meses alta de 7,58%, bem acima da taxa de 4,75% de 2021.
"A flexibilização do isolamento social pode ter contribuído para alta dos serviços em 2022. Havia uma demanda reprimida antes", disse o coordenador do IBGE.
Em dezembro, o índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, subiu a 69%, de 59% no mês anterior, maior nível desde maio.
Além da pressão inflacionária, completam o cenário para 2023 um crescimento fraco e juros elevados, uma vez que o BC tirou a taxa básica Selic da mínima de 2% para os atuais 13,75%, o que foi classificado de situação anômala por Haddad.
A expectativa do mercado é de cortes na taxa de juros básica este ano, mas o BC vem afirmando que seguirá avaliando se manter a taxa em 13,75% ao ano será suficiente para levar a inflação à meta. Para 2023, o centro do objetivo é de 3,0%, também com tolerância de 1,5 ponto.
"No momento, ainda projetamos uma rápida desaceleração do IPCA para a casa dos 5%, mas ainda acreditamos que a convergência para o centro da meta seré difícil e levará tempo", disseram em nota Daniel Karp e Felipe Kotinda, economistas do Santander.
O BC também vem cobrando responsabilidade do novo governo em relação às contas públicas, enquanto Haddad tem pregado uma harmonização das políticas fiscal e monetária.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.