Taxas futuras de juros caem pela sexta sessão após IGP-DI ter maior queda desde 1947
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros recuaram pela sexta sessão consecutiva no Brasil, na contramão do exterior, em meio à percepção de que os índices mais recentes de inflação, como o IGP-DI divulgado nesta terça-feira, reforçam a perspectiva de um início de corte da taxa básica Selic no futuro próximo.
Após o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) e o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) indicarem, em semanas anteriores, que os preços no Brasil finalmente estão cedendo, nesta terça-feira foi a vez de o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) mostrar fraqueza.
Conforme a Fundação Getulio Vargas (FGV), o IGP-DI recuou 2,33% em maio, intensificando o recuo de 1,01% visto no mês anterior. Esta foi a queda mais forte do indicador de inflação em 76 anos, desde abril de 1947 (-2,59%).
“Temos visto há alguns dias a curva de juros fechando, praticamente em todos os vértices, e o motivo é único: a desaceleração da inflação”, comentou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
“IPCA-15, IGP-M... todos os indicadores estão convergindo para o mesmo lado. E hoje (terça-feira) tivemos o IGP-DI, que está fazendo preço também.”
Em análise a clientes, a Azimut Brasil afirmou que a deflação no atacado, observada nos dados do IGP-DI, é justificada pela queda nos preços de commodities como minério de ferro, milho e soja.
“O que estamos observando, e não apenas no Brasil, é a reversão da forte alta desses preços durante a pandemia”, avaliou a gestora.
Mesmo com os dados de inflação mais favoráveis, a curva a termo segue precificando chances pequenas de o Banco Central iniciar o ciclo de cortes da Selic, atualmente em 13,75% ao ano, já este mês. No entanto, as chances de um corte em agosto aumentaram, pela precificação da curva.
Durante a tarde, a precificação era de corte de 18 pontos-base da Selic em agosto, o que significa cerca de 72% de chances de um corte de 0,25 ponto percentual e outros 28% de manutenção.
Na quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio – o indicador oficial de inflação. O índice será observado com lupa pelo mercado financeiro, que busca indicações sobre os próximos passos do Banco Central na política monetária.
Por enquanto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem adotado um discurso cauteloso, como mostrou sua participação em evento da segunda-feira. Ao mesmo tempo em que reconhece que a inflação “está melhorado”, ele avalia que a queda nos núcleos de inflação está lenta.
Neste cenário, no fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2024 estava em 13,13%, ante 13,158% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,24%, ante 11,301% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,535%, ante 10,585% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,515%, ante 10,556%.
O novo recuo das taxas dos DIs no Brasil contrastou com o avanço do rendimento dos Treasuries no exterior, onde investidores aguardam a divulgação de novos dados de inflação na semana que vem e a reunião de política monetária do Federal Reserve.
Às 16:42 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dois anos --que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo-- subia 4,20 pontos-base, a 4,5246%.
No mesmo horário, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 0,20 ponto-base, a 3,6947%.
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