Campos Neto diz que Brasil precisa fazer melhor o "dever de casa" do lado fiscal
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que o Brasil precisa fazer melhor o "dever de casa" do lado fiscal, num momento em que os estímulos fiscais têm pressionado também as economias dos países desenvolvidos.
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De acordo com Campos Neto, os Estados Unidos e a Europa possuem atualmente um fiscal que opera no campo estimulativo, o que afeta o controle da inflação.
"Banqueiros centrais começaram a falar em Jackson Hole que o trabalho vai ser mais difícil se não for atacado o fiscal", comentou Campos Neto, em referência ao simpósio de Jackson Hole, ocorrido na última semana nos EUA.
Para ele, como o equilíbrio fiscal se tornou uma questão importante para países que nunca tiveram grandes dificuldades na área, para países como o Brasil, onde o assunto sempre foi motivo de preocupação, a "barra ficou mais alta". Assim, segundo ele, o Brasil precisará "fazer o dever de casa melhor".
As declarações de Campos Neto foram feitas durante apresentação na noite desta segunda-feira em evento do Fundo Comunitário Keren Hayesod, em São Paulo.
No início da tarde, Campos Neto já havia abordado o tema do equilíbrio fiscal em evento da Warren Investimentos. Na ocasião, ele afirmou que parte da desancoragem das expectativas verificada no Brasil na área fiscal é explicada pela necessidade de se elevar as receitas do governo para o cumprimento das metas.
Ao participar do evento do fundo, Campos Neto avaliou também que, dado o cenário econômico da China, é razoável imaginar uma desaceleração do país asiático.
De acordo com Campos Neto, o governo chinês tem espaço para estimular sua economia, já que a dívida do país é relativamente baixa. Porém, ele afirmou que "desta vez, ao contrário do passado, os movimentos da China para estimular economia foram tímidos".
Na semana passada, a China surpreendeu negativamente os mercados ao promover um corte modesto em sua taxa de juros de um ano, além de manter sua taxa de cinco anos.
Ao analisar as dificuldades do gigante asiático, Campos Neto citou fatores como a pressão no setor imobiliário, o envelhecimento da população, o desemprego entre os mais jovens e o embargo norte-americano a semicondutores.
"Vemos vários fatores ao mesmo tempo atuando na China. O mais razoável é imaginar uma desaceleração", completou.