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Incerteza fiscal impacta política monetária e mudança na meta dificultaria projeções, diz Campos Neto

09/11/2023 11h14

Por Rodrigo Campos

NOVA YORK (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que há incerteza sobre a trajetória fiscal do Brasil e que isso tem influência na política monetária, acrescentando que eventual mudança na meta de resultado primário do ano que vem dificultaria projeções.

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Falando na conferência Reuters NEXT, realizada em Nova York, Campos Neto disse que o BC se "preocupa" porque a questão fiscal impacta variáveis que influenciam a política monetária, embora não haja uma relação mecânica entre alterações na meta de primário e a política monetária.

"Há muita incerteza sobre se o Brasil conseguirá realmente ter um padrão fiscal sustentável, e isso influencia muitas das variáveis que são importantes para nós quando tomamos uma decisão em política monetária", disse.

O presidente do BC voltou a defender a busca pelas metas fiscais propostas pelo governo, ao argumentar que uma mudança nesses alvos deixaria turvas as previsões para a economia brasileira à frente e ampliaria riscos.

"Se você se deparar com o primeiro problema e decidir mudar a meta, como as pessoas vão prever 2025 e 2026? O problema é que se tivermos mais incerteza sobre a trajetória orçamentária quando prolongarmos o horizonte temporal, começaremos a ter um prêmio de risco (maior)", afirmou.

Campos Neto ponderou que o país tem feito uma série de reformas econômicas, citando a aprovação pelo Senado da proposta que reorganiza a tributação sobre o consumo.

Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alarmou os mercados ao dizer que dificilmente o país alcançará a meta de zerar o déficit primário no ano que vem. A ideia de mudar o alvo para as contas públicas, que ganhou força após as declarações, sofre resistência do Ministério da Fazenda.

A equipe econômica negocia a aprovação de medidas para ampliar receitas, mas iniciativas vêm enfrentando dificuldades no Congresso, como a que acaba com benefício fiscal ligado à distribuição de Juros sobre Capital Próprio (JCP) pelas empresas e a iniciativa para barrar parte dos incentivos tributários vinculados a benesses estaduais.

Em seu mais recente comunicado, o BC já havia reforçado a defesa pelo zelo com as contas públicas ao afirmar que observa maior incerteza sobre a capacidade do governo em cumprir as metas fiscais e defender que os objetivos sejam buscados com firmeza.

MUITAS INCERTEZAS

No evento, o presidente do BC disse que há muitas incertezas no ambiente internacional e é difícil indicar de onde virá a desinflação global, apontando riscos de um cenário com juros mais elevados no mundo.

"Se você tem taxas de juros mais altas e sua dívida é muito mais alta, isso significa que você precisa de muito mais dinheiro para rolar a dívida das economias avançadas, o que tira liquidez das empresas e dos mercados emergentes", afirmou.

De acordo com Campos Neto, há surpresa no fato de que os preços das commodities não subiram tanto em um cenário com conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.

Ele afirmou ainda que há uma discussão sobre eventual queda de preços de alimentos no mundo, mas avaliou ser difícil isso ocorrer.

"Por ser uma potência agropecuária, acho que o Brasil está em uma posição mais segura", disse.

O presidente do BC ainda defendeu a criação de um mercado de carbono no Brasil, argumentando que esse modelo é mais eficaz do que a implementação de uma taxação sobre as emissões de poluentes.

"Quando resolvermos esses problemas de colocação no mercado e de sermos capazes de rentabilizar o que temos, penso que teremos um grande futuro pela frente em termos de mercado de carbono", afirmou.

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