Atividade frustra expectativa em setembro e IBC-Br aponta contração de 0,64% no 3º tri
Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A economia do Brasil registrou retração no terceiro trimestre, apontando forte movimento de perda de força da atividade com o resultado em setembro, que frustrou as expectativas, mostraram dados do Banco Central nesta sexta-feira.
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O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) recuou 0,06% em setembro na comparação com o mês anterior, segundo dado dessazonalizado do indicador que é um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB).
A leitura do mês foi bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,20%, e marcou o segundo mês seguido no vermelho.
No entanto, o recuo do IBC-Br em setembro foi mais fraco do que em agosto, quando o índice registrou retração de 0,81%, em dado revisado pelo BC de uma queda de 0,77% informada antes.
Com esses resultados, o índice apontou contração de 0,64% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores e mostrou perda de força ao longo do ano, depois de ter avançado 2,39% no primeiro trimestre e 0,75% no segundo.
"Temos uma projeção de queda de 0,2% no PIB do terceiro trimestre, vejo algum viés baixista para a projeção. Acredito que agora chega a parte difícil do ciclo, tenho a percepção de que o quarto trimestre vai ser pior do que o terceiro, adicionando um risco à nossa projeção para o crescimento de 2023", disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, que segue com estimativa de expansão de 3% para o ano, mas avalia que "um 2,8% parece provável também".
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o IBC-Br teve alta de 0,32%, enquanto no acumulado em 12 meses passou a um avanço de 2,50%, de acordo com os números observados.
A economia brasileira mostrou forte resiliência no primeiro semestre do ano com impulso da atividade agrícola, de um mercado de trabalho aquecido e do setor de serviços, mas analistas já esperavam perda de força na segunda metade do ano.
Além da dissipação do choque positivo da agricultura, pesam sobre a atividade a dificuldade de recuperação da indústria, o cenário global desafiador e os efeitos defasados da política monetária restritiva, embora o Banco Central tenha embarcado em um ciclo de redução da taxa básica de juros.
"Apesar da recente surpresa positiva no resultado do PIB do segundo trimestre, continuamos a ver sinais de desaceleração para a atividade à frente, especialmente para segmentos mais cíclicos", avaliou Gabriel Couto, economista do Santander Brasil.
"Além disso, esperamos contribuições negativas da produção agrícola para o segundo semestre, já que o impacto positivo da safra recorde de verão ficou limitado ao primeiro trimestre e começo do segundo", completou ele, calculando recuo de 0,4% do PIB no terceiro trimestre e expansão de 2,5% neste ano.
O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, previu em entrevista à Reuters no mês passado "um terceiro trimestre muito ruim", com o cenário doméstico sendo agravado pelo exterior mais conturbado, diante de taxas de juro de longo prazo mais elevadas nos Estados Unidos e dos recentes conflitos entre Israel e Palestina.
O BC fez no início do mês um terceiro corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 12,25% ao ano, e afirmou que sua diretoria antevê reduções equivalentes nas próximas reuniões.
O IBGE divulga em 5 de dezembro os dados do PIB no terceiro trimestre.
Em setembro, o destaque foi o aumento acima do esperado das vendas no varejo brasileiro, de 0,6%. Já a produção industrial brasileira teve alta de apenas 0,1% no mês.
A má notícia veio do setor de serviços, cujo volume contraiu 0,3% em setembro, contra expectativa de alta.
A mais recente pesquisa Focus realizada pelo BC mostra que o mercado vê expansão do PIB este ano de 2,89%, caindo a 1,50% em 2024.
O IBC-Br é construído com base em proxies representativas dos índices de volume da produção da agropecuária, da indústria e do setor de serviços, além do índice de volume dos impostos sobre a produção.