Taxas futuras caem com fala de Campos Neto e aprovação de projetos na CAE do Senado
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos de DI fecharam o dia em baixa, com a curva a termo reagindo a comentários da noite anterior do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre política monetária, considerados brandos pelo mercado, enquanto nesta quarta-feira dois projetos de interesse do governo foram aprovados em comissão do Senado.
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As taxas dos contratos futuros já abriram o dia em queda no Brasil, repercutindo entrevista do presidente do BC ao canal asiático da Bloomberg TV na noite de terça-feira.
Nela, Campos Neto reiterou que a tendência é que a instituição corte a Selic em 0,50 ponto percentual nas duas próximas reuniões, em dezembro e em janeiro, e disse que é “difícil” dizer onde o ciclo de redução da taxa básica vai parar. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.
O presidente do BC afirmou ainda que a instituição pode continuar baixando a Selic e que a inflação no Brasil está bem-comportada.
A fala de Campos Neto foi considerada dovish (branda com a inflação) por participantes do mercado, o que abriu espaço para a queda das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) nesta quarta-feira.
“Ele foi entendido como dove (brando), porque falou muito em espaço para corte da Selic”, disse o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano. “Temos que lembrar também que o ciclo é longo e que as taxas de juros estão altas. Se chegarmos em janeiro com corte de 50 pontos-base, estamos falando de uma Selic em 11,25% ainda”, acrescentou.
Para Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, os comentários de Campos Neto foram coerentes com as palavras e as ações do próprio BC.
“Campos Neto deixou claro que o ciclo de cortes de juros deve continuar, mesmo com as expectativas de inflação de prazos mais longos ainda acima das metas”, pontuou Olivares, em comentário enviado a clientes.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries ganharam força na esteira da divulgação, às 12h, do índice de confiança do consumidor dos EUA, medido pela universidade de Michigan. O indicador atingiu 61,3 em novembro, ante projeção de 60,6 em pesquisa da Reuters com economistas. As expectativas de inflação dos consumidores dos EUA também aumentaram pelo segundo mês consecutivo em novembro.
Os rendimentos do título norte-americano de dez anos, referência global de investimentos, passaram a subir, o que contribuiu para reduzir, em alguns momentos da sessão, a queda das taxas dos DIs no Brasil.
Já as notícias vindas de Brasília atuaram em sentido oposto. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou o parecer favorável à proposta de taxação de fundos exclusivos e offshores e, na sequência, o projeto que regulamenta apostas esportivas, as chamadas bets. Ambas as propostas vão agora ao plenário da Casa.
Os dois projetos fazem parte dos esforços do governo para melhorar a arrecadação, em meio à busca da equipe econômica por recursos para cumprir a meta de resultado primário zero em 2024.
Enquanto na terça-feira o adiamento da votação da proposta sobre fundos e offshores na CAE contribuiu para o avanço dos juros futuros, a aprovação nesta quarta-feira favoreceu a queda, em meio a uma percepção de risco fiscal menor.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,515%, ante 10,569% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,24%, ante 10,31% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,365%, ante 10,44%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,6%, ante 10,671%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,96%, ante 11,029%.
Perto do fechamento a curva a termo precificava em 95% as chances de o corte da Selic em dezembro ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,75 ponto percentual eram precificadas em 5%.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 0,40 ponto-base, a 4,4217%.