Banco Safra diz que acordo proposto por Americanas prevê interrupção de investigações
O banco Safra, um dos principais credores da Americanas, avalia que houve fraude na rede de varejo e que o acordo anunciado na véspera em que outros bancos aceitaram apoiar o plano de recuperação judicial da companhia prevê interrupção de investigações.
O Safra não aderiu ao acordo anunciado na véspera pela empresa que tem os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcelo Telles como acionistas de referência. O acerto anunciado pela Americanas envolve os bancos Bradesco, BTG Pactual, Itaú Unibanco e Santander Brasil, que compreendem mais de 35% da dívida da empresa.
Além desses bancos e do Safra, são também credores da Americanas Banco do Brasil e BV.
"O acordo proposto prevê interrupção das investigações e portanto desconsidera o justo interesse da sociedade e de todos impactados de saber o que ocorreu de verdade", afirmou o Safra em resposta a questionamento da Reuters.
Segundo o texto do acordo de apoio à reestruturação, as partes se obrigam a suspender ações existentes "desde a presente data...e se absterem de iniciar novas demandas contra qualquer parte".
Os credores apoiadores, o grupo de bancos que aderiu ao acordo proposto, também se obrigam a "em caráter irrevogável e irretratável a não promover, direta ou indiretamente, qualquer demanda contra qualquer outro credor apoiador", segundo o texto.
O atual plano de recuperação envolve aporte de 12 bilhões de reais pelo trio de bilionários na Americanas e a conversão de 12 bilhões de reais em dívidas em ações da empresa. O plano também permite vantagens de recebimento, embora com forte desconto, para quem aderir.
"A injeção de recursos não pode desconsiderar o fato de que houve a maior fraude contábil do Brasil e uma das maiores do mundo", afirmou o Safra, que tem exposição de 2,5 bilhões de reais à Americanas.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o escândalo da varejista, que teve de recorrer à recuperação judicial no início do ano sob peso de 50 bilhões de reais em dívidas e em meio à revelação em janeiro de "inconsistências contábeis" bilionárias ocorridas na gestão anterior da empresa, foi encerrada em setembro sem apontar responsáveis pelo rombo.
Durante a CPI, a própria Americanas disse ter indícios de que tenha ocorrido uma fraude estimada pela companhia em mais de 25 bilhões de reais no resultado e citou nominalmente alguns ex-diretores. Os diretores citados, porém, não compareceram à CPI ou permaneceram calados perante os parlamentares, com o apoio de decisões judiciais que asseguravam tal conduta.
Procurada sobre os comentários do Safra, a Americanas negou que o acordo firmado com os bancos credores implique em suspensão de investigações.
"O acordo não gera nenhum impacto nas frentes de esclarecimento conduzidas pelo comitê independente (organizado pela empresa), Polícia Federal, Comissão de Valores Mobiliários, B3 e Ministério Público Federal", afirmou a Americanas, citando que tem colaborado com todas as autoridades responsáveis.