Não há perspectiva de suspensão de acordos de leniência firmados com CGU na Lava Jato, diz ministro; Novonor contesta
(Reuters) - O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Carvalho, disse nesta sexta-feira que não há perspectiva de suspensão dos acordos firmados pelo órgão com empresas no âmbito da Lava Jato, após o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspender os pagamentos no âmbito do acordo de leniência firmado entre a Novonor, antiga Odebrecht com o Ministério Público Federal (MPF).
Em entrevista à GloboNews, Carvalho afirmou que o acordo firmado pela Novonor com a CGU, que prevê o pagamento de 2,7 bilhões de reais pela empresa aos cofres públicos, segue valendo e que a companhia precisa continuar mantendo seus pagamentos no âmbito do acordo.
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"Não há nenhuma decisão hoje sobre revisão ou anulação, qualquer coisa desse tipo, ou suspensão de pagamentos dos acordos celebrados com a CGU", disse Carvalho à emissora.
"Da nossa perspectiva, nossos acordos são hígidos e estão sob vigência, estão valendo. Não tem nenhuma perspectiva nossa de suspender os acordos, porque de fato não há nenhuma decisão sobre os nossos acordos", acrescentou ele.
O chefe da CGU assegurou que os acordos de leniência firmados pelo órgão com empresas que admitiram irregularidades na operação Lava Jato não contaram com a participação do Ministério Público. Ele também garantiu que, nesses acordos, não houve coação por parte da CGU junto a essas companhias para firmar tais acordos.
"Esses acordos das empresas com a CGU não têm a participação do Ministério Público, o Ministério Público não assina o acordo, e foram negociados diretamente pela CGU e pelas empresas com base naquilo que as empresas trouxeram para a CGU dentro da sua sacola de provas e de evidências", afirmou.
Em nota, a Novonor rebateu as declarações do ministro. De acordo com o advogado da empresa, Rodrigo Mudrovitsch, a decisão de Toffoli abrange tanto os pagamentos estipulados no acordo com a então Força Tarefa da Lava Jato, no MP, quanto os feitos com a CGU e com a Advocacia Geral da União (AGU).
"Os acordos tratam rigorosamente dos mesmos fatos. São claramente coligados, sendo que um deriva e está inserido no outro, de modo que as suspeitas de vício que pairam sobre um alcançam, por decorrência lógica, o outro", disse o advogado na nota enviada pela empresa.
Mudrovitsch alega ainda que os valores estipulados nos acordos com CGU e AGU são parte do valor global firmado com o MP e que há cláusulas de compensação entre eles, e que a decisão do STF determinou a suspensão de todas as obrigações financeiras.
Segundo ainda a Novonor, a decisão de Toffoli autorizou a revisão de todos os acordos.
Na decisão em que suspendeu os pagamentos da Novonor no âmbito do acordo de leniência com o MPF, Toffoli disse haver "no mínimo, dúvida razoável sobre o requisito da voluntariedade da requerente ao firmar o acordo de leniência com o Ministério Público Federal".
Dados do Painel de Acordos de Leniência da CGU indicam que dos 2,7 bilhões de reais acordados pela Novonor com o órgão, 6,3%, ou 172,7 milhões já foram pagos pela companhia a diversas empresas públicas e entes federais, incluindo 71,4 milhões à Petrobras.
Em sua decisão, Toffoli também permitiu a renegociação pela empresa do acordo de leniência. Na entrevista à GloboNews nesta sexta, o ministro-chefe da CGU disse que qualquer empresa pode, se quiser, buscar uma renegociação, mas que não há decisão neste momento que obrigue o órgão a acatar uma repactuação do acordo.
"A empresa pode tentar fazer isso (renegociar acordo) a qualquer momento. Qualquer empresa pode fazer isso. Aí a gente vai ter que discutir se há pressupostos ou não para renegociação do acordo", disse o ministro.
"Agora, a CGU não está obrigada a renegociar o acordo dela, CGU, se não há uma decisão judicial dizendo que o meu acordo é ilícito ou partes do meu acordo são ilícitos."
(Por Eduardo Simões; Edição de Alexandre Caverni)