Taxas futuras de juros têm nova queda firme no Brasil após dados de emprego nos EUA
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em baixa firme no Brasil, pelo segundo dia consecutivo, com a curva de juros brasileira refletindo a divulgação de dados mais fracos que o esperado do mercado de trabalho norte-americano, o que reforçou a possibilidade de o Banco Central cortar a Selic novamente em 50 pontos-base na próxima semana.
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No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,145%, ante 10,204% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,32%, ante 10,432% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,62%, ante 10,756%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,92%, ante 11,062%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,37%, ante 11,512%.
Na quinta-feira as taxas futuras já haviam despencado no Brasil, após a agência Moody’s melhorar a perspectiva da nota de crédito do país e depois da decisão sobre juros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Fed.
Nesta sexta-feira foi a vez de o relatório payroll reforçar o movimento. O Departamento do Trabalho dos EUA informou que foram geradas 175.000 vagas fora do setor agrícola em abril, bem abaixo das 243.000 vagas da mediana das expectativas de economistas ouvidos pela Reuters. As estimativas variavam de 150.000 a 280.000 vagas.
O número mais fraco que o esperado colocou os rendimentos dos Treasuries em trajetória de queda, com o mercado precificando dois cortes de 25 pontos-base de juros nos EUA este ano -- e não um corte, como verificado nas últimas semanas.
No Brasil, isso se traduziu em queda firme das taxas dos DIs. A taxa do contrato para janeiro de 2026, por exemplo, atingiu a mínima de 10,265% às 9h34, pouco depois da divulgação do payroll, em baixa de cerca de 17 pontos-base ante o ajuste da véspera.
“O que acontece com os Treasuries é determinante para a nossa curva, e hoje tivemos finalmente um sinal de alívio no mercado de trabalho norte-americano, com o payroll bem abaixo do esperado”, comentou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos. “Isso abriu espaço para um movimento de correção, tanto na curva dos EUA quanto na do Brasil”, acrescentou.
Segundo Sueishi, voltou à tona a discussão sobre o que o BC fará na semana que vem com a Selic, atualmente em 10,75% ao ano. “O mercado já estava precificando majoritariamente um corte de 25 pontos-base. Com o movimento de hoje, já está mais dividido.”
Nesta semana, as taxas dos DIs cederam em três das quatro sessões, com destaque para os dois últimos dias, quando as apostas em um corte de 50 pontos-base aumentaram.
Perto do fechamento desta sexta-feira a precificação da curva estava em 75% de probabilidade de corte de 25 pontos-base da Selic na próxima semana e 25% para corte de 50 pontos-base. Na semana passada, o percentual de corte de 25 pontos-base chegou a 95%.
“Diferente do mês passado, o relatório de emprego de abril trouxe dados que ficaram abaixo das expectativas, sinalizando que, apesar de permanecer apertado, o mercado de trabalho pode estar desacelerando de forma mais visível nos EUA”, destacou Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, em comunicado enviado a clientes.
“A semana certamente está terminando de forma mais construtiva do que começou, com os mercados avaliando positivamente tanto as comunicações do Fomc como o pacote de dados do mercado de trabalho.”
No exterior, além do payroll, destaque para os dados do setor de serviços norte-americano. O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) informou que seu PMI não manufatureiro caiu para 49,4 no mês passado, de 51,4 em março, a menor leitura desde dezembro de 2022. Uma leitura abaixo de 50 indica contração no setor de serviços, que responde por mais de dois terços da economia dos EUA.
Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 7 pontos-base, a 4,504%.