BCE tem espaço para cortar juros, mas deve ter calma, dizem autoridades
(Reuters) - O Banco Central Europeu tem espaço para cortar os juros à medida que a inflação na zona do euro desacelera, mas deve ir com calma no afrouxamento da política monetária, mesmo que a trajetória já esteja clara, disseram autoridades da instituição nesta segunda-feira.
O BCE tem sinalizado um corte na taxa de juros para 6 de junho, de modo que o debate mudou para os movimentos subsequentes e a velocidade com que eles ocorrerão. Os mercados têm reduzido suas expectativas para apostar em apenas mais um corte neste ano.
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"A menos que haja uma surpresa, o primeiro corte na taxa de juros em junho está fechado, mas depois disso temos vários graus de liberdade", disse o presidente do banco central francês, François Villeroy de Galhau, ao jornal alemão Boersen Zeitung.
Ele não sinalizou uma nova redução em seguida, mas repreendeu gentilmente colegas como Isabel Schnabel, membro da diretoria, que já estão discutindo uma pausa após o corte inicial.
"Por que isso, se (vamos) reunião por reunião e com base em dados?", disse Villeroy. "Não estou dizendo que devemos nos comprometer já com julho, mas vamos manter nossa liberdade quanto ao momento e ao ritmo."
O economista-chefe do BCE, Philip Lane, adotou uma postura mais comedida, mas alertou que um afrouxamento muito tardio pode levar a inflação a ficar abaixo da meta, o que forçaria o BCE a apressar os cortes depois.
"Manter os juros excessivamente restritivas por muito tempo pode empurrar a inflação para abaixo da meta no médio prazo", disse Lane em um discurso em Dublin. "Isso exigiria uma ação corretiva por meio de uma aceleração subsequente nos cortes, o que poderia até mesmo exigir uma descida para níveis abaixo da neutralidade."
Atualmente, os mercados preveem apenas mais um corte na taxa de juros neste ano, após o movimento inicial de junho, uma grande reversão em comparação com o início do ano, quando eram estimados até seis cortes.
Ainda assim, Lane insistiu que o processo de desinflação está no caminho certo e, mesmo que os números do crescimento dos preços possam ser instáveis nos próximos meses, as tendências permanecem em linha com as projeções do banco que colocam a inflação de volta à meta de 2% em 2025.
Villeroy disse que isso pode permitir que o BCE afrouxe ainda mais a política monetária e que as expectativas de que sua taxa de depósito, agora em 4%, possa se estabelecer em 2%, não são estranhas.
"Temos espaço significativo para cortes", disse ele. "Do ponto de vista atual, minha impressão é que as expectativas atuais do mercado para nossa taxa terminal não são irracionais."
Em entrevista ao Financial Times, Lane também disse que as autoridades do BCE precisam manter os juros em patamar restritivo durante todo o ano e que é necessário mais progresso em relação à inflação.
(Por Jahnavi Nidumolu em Bengaluru, Balazs Koranyi e Francesco Canepa em Frankfurt e Leigh Thomas em Paris)