BC diz que financiamento à economia real voltou a acelerar e destaca riscos fiscais

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) -O Banco Central afirmou nesta quinta-feira que o financiamento à economia real voltou a acelerar no primeiro semestre do ano em linha com o crescimento da atividade econômica acima do esperado, e que não vê risco relevante para a estabilidade financeira, embora tenha destacado os riscos fiscais.

De acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira, a aceleração do crédito às pessoas físicas foi mais acentuada nas carteiras de financiamento de veículos e de crédito não consignado.

Já a retomada do crédito bancário às pessoas jurídicas foi puxada pelas grandes empresas, ainda que de forma moderada se comparada ao financiamento via mercado de capitais.

"No ponto de veículos, dada a elevação da (taxa básica de juros) Selic ..., estamos acreditando que esse crescimento nos próximos períodos não será tão forte como apontamos", explicou o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton Aquino, em entrevista à imprensa.

O Banco Central deu início a um ciclo de aperto monetário, levando a Selic aos atuais 11,25%, com expectativa de novo aumento na última reunião de política monetária do ano, em dezembro.

O BC avaliou ainda que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) permanece com capitalização e liquidez confortáveis e provisões adequadas ao nível de perdas esperadas, e que os testes de estresse de capital e de liquidez demonstram a robustez do sistema bancário.

Citando mudança regulatória que entrará em vigor em 1º de janeiro de 2025 com novos conceitos e critérios contábeis para mensurar, registrar e divulgar instrumentos financeiros, o BC destacou ainda que serão necessários quase 38 bilhões de reais em provisões adicionais do sistema financeiro.

"Alinhamos o SFN às melhores práticas internacionais. Pelas nossas simulações, as mudanças podem impactar um grupo pequeno de entidades, mas a gente vai tratar os casos pontuais", disse Aquino.

Mas o relatório destacou que os riscos fiscais ganham relevância.

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"Os riscos fiscais foram os mais citados pelas instituições financeiras, reflexo de preocupações com a trajetória da dívida pública e com os impactos da política fiscal sobre os preços de ativos e a política monetária", disse a autarquia.

O governo ainda não confirmou o anúncio das medidas fiscais em discussão na Esplanada, e a demora tem estressado o mercado e pressionado os ativos brasileiros. O Executivo havia prometido a divulgação do pacote, que deve prever iniciativas de cortes de despesas, para depois do segundo turno das eleições municipais.

No relatório, o BC ainda afirmou que a atividade econômica e o mercado de trabalho seguem dinâmicos na cena nacional, e que o cenário externo permanece desafiador.

Mas, "a despeito dos sinais econômicos favoráveis, a capacidade de pagamento das famílias e das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) segue desafiadora", segundo o BC, citando que o endividamento e o comprometimento de renda das famílias seguem elevados e que, no caso das MPMEs, há crescente volume de requerimentos de recuperação judicial e percepção de alavancagem elevada.

"Percebemos claramente elevação do apetite das instituições financeiras. Temos algumas forças relevantes, subida de taxa (de juros), endividamento das famílias, comprometimento de renda, maior apetite a risco, o que pode gerar no futuro eventual elevação da inadimplência. É um alerta que fazemos aqui", disse Aquino.

RIO GRANDE DO SUL

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O relatório do BC apontou ainda que o impacto para o SFN das enchentes que abalaram o Rio Grande do Sul este ano foi menor do que originalmente esperado, com iniciativas do BC e do Conselho Monetário Nacional (CMN) que resguardaram a prestação de serviços pelo sistema e evitaram ônus desnecessários a cidadãos e empresas.

"As diretrizes das medidas visaram preservar a estabilidade financeira e proteger o consumidor. Não se percebem alterações sistemicamente relevantes nas captações, na liquidez ou no risco de crédito das Entidades Supervisionadas que atuam no RS", disse.

"Especificamente em relação ao setor agropecuário, as perdas com pagamentos de coberturas pelo Proagro foram significativamente inferiores às perdas provocadas pelas secas de 2022 e 2023", completou.

(Por Camila Moreira em São Paulo e Marcela Ayres em BrasíliaEdição de Patrícia Vilas Boas e Isabel Versiani)

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