Dólar volta a ultrapassar R$6,00 e bate novo recorde com reação negativa à reforma do IR
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar subia nesta sexta-feira, voltando a bater novo recorde ao ultrapassar a marca histórica de 6,00 reais, com investidores ainda reagindo negativamente ao anúncio de uma reforma do Imposto de Renda pelo governo junto com um esperado pacote de contenção de gastos.
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Às 9h37, o dólar à vista subia 0,86%, a 6,0425 reais na venda, após atingir máxima de 6,0535 reais com alta de mais de 1%. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,34%, a 6,030 reais na venda.
Na sessão anterior, a moeda norte-americana ficou acima de 6,00 reais pela primeira vez desde o início da circulação da divisa brasileira, em 1994, com 6,0040 reais na máxima, fechando o dia com forte alta de 1,30%, a 5,9910 reais, a maior cotação nominal de fechamento da história.
O movimento ocorre na esteira da dupla divulgação na quarta de um projeto de reforma tributária da renda, que busca ampliar a faixa de isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais por mês, e de um pacote de medidas que promoverá uma economia de 71,9 bilhões de reais nas contas públicas em dois anos.
O pacote fiscal era amplamente esperado pelo mercado, que vinha mostrando nervosismo com a demora por seu anúncio, uma vez que havia sido prometido para depois do segundo turno das eleições municipais.
Mas apesar do valor das medidas de contenção de gastos vir em linha com o esperado, os investidores foram pegos de surpresa com a divulgação concomitante da reforma do IR, uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como compensação para a isenção, o governo indicou a cobrança de mais imposto de quem recebe mais de 50 mil reais por mês e a limitação da isenção de IR de aposentados com problemas de saúde graves que recebam acima de 20 mil reais por mês
Para alguns analistas, o anúncio do projeto de mudança na faixa de isenção de IR levantou dúvidas sobre o compromisso do Executivo com o ajuste das contas, pois mostraria um governo mais preocupado com questões políticas do que econômicas. Mas outros apontaram para uma reação exagerada do mercado
"O governo precisa demonstrar que seu plano é viável, e por isso devemos esperar um período de volatilidade nos próximos dias e meses. A implementação do esforço fiscal prometido será crucial para consolidar a confiança do mercado", disse André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
"A reação do mercado é compreensível, mas considero-a desproporcional. Ficou claro que a responsabilidade fiscal é uma prioridade", completou.
Na curva de juros brasileira, as taxas de DIs mostravam altas por mais uma sessão, refletindo a desconfiança do mercado, embora com avanços menos expressivos do que no dia anterior.
A sessão desta sexta ainda é marcada pela disputa da Ptax de fim de mês. Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros.
Com o foco no noticiário doméstico, o real ia na contramão de seus pares emergentes, que rondavam a estabilidade frente ao dólar em meio a um volume de negociações fraco em uma sessão pós-feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos.
As atenções no exterior continuam sendo as perspectivas para o novo governo do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, à medida que suas promessas de tarifas têm gerados temores de guerras comerciais no próximo ano.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,06%, a 106,010.
(Edição de Camila Moreira)