Impasse com decisão de Dino sobre emendas trava pacote fiscal na Câmara e ameaça jogá-lo para 2025, dizem fontes

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - Um impasse sobre os efeitos da decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs condições para o pagamento de emendas parlamentares travou o avanço do pacote fiscal na Câmara dos Deputados e ameaça jogar a votação dessas medidas na Casa para 2025, afirmaram à Reuters nesta segunda-feira três fontes com conhecimento das tratativas.

Uma fonte ligada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que sem um recuo de Dino e do Supremo -- cujo plenário referendou a decisão do ministro -- e a retomada da liberação das emendas, é "muito provável" que nada avance este ano na Casa.

Pelo calendário legislativo, o governo tem apenas mais duas semanas de trabalhos dos parlamentares para aprovar o pacote fiscal, que prevê uma contenção de despesas públicas de cerca de 70 bilhões de reais até 2026.

"Não é uma situação política simples e de fácil resolução", disse essa fonte. "O Judiciário precisa fazer algum gesto".

Dino liberou o repasse das emendas de relator, de comissão e as chamadas emendas PIX, que estavam suspensas desde agosto, mas colocou uma série de condicionantes para se cumprir regras referentes à transparência, à rastreabilidade e ao controle público.

Apesar de posteriormente respaldada pelo plenário do Supremo, a determinação de Dino causou revolta entre os congressistas por considerar que o magistrado ignorou os termos de uma proposta aprovada pelo Congresso sobre o assunto.

O governo, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), chegou a apresentar ao STF um pedido de esclarecimentos sobre o alcance da decisão, como os critérios para a liberação das emendas. Há quem avalie que o governo teria condições de fazer com que Dino -- que foi ministro da Justiça do governo Lula, que o indicou ao Supremo -- pudesse rever a sua decisão. Contudo, no início da tarde desta segunda, Dino decidiu manter integralmente sua decisão e rejeitou o recurso.

Outro ponto de ruído para os parlamentares é a liberação das emendas. Na semana passada, em reunião com a presença de Lira e líderes partidários, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), informou que o Executivo se comprometeu a pagar 7,8 bilhões de reais em recursos de emendas parlamentares que estavam represadas, segundo uma fonte com conhecimento das tratativas.

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Mas os parlamentares querem uma aceleração da liberação desses recursos para melhorar o ambiente na Câmara.

INSUFICIENTE

Um dos vice-líderes do governo na Câmara, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) admitiu que há risco de o pacote de ajuste não ser votado este ano. Paulo, que é autor de uma PEC mais dura de ajuste fiscal, ainda adicionou um ingrediente nas discussões.

"O Congresso não confia que o pacote é suficiente para reverter a situação fiscal", afirmou.

Uma fonte do Palácio do Planalto disse à Reuters que o governo está ciente dos desafios e trabalha para resolver os impasses. Essa fonte afirmou que os ministros da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Fazenda, Fernando Haddad, se reúnem nesta tarde com líderes partidários da Câmara para discutir o assunto.

Está prevista para terça-feira uma outra rodada de reunião do presidente da Câmara com os líderes da Casa sobre esse e outros temas. Em entrevista ao site UOL publicada nesta segunda, Lira disse que, enquanto o governo não liberar as emendas, não vai indicar o relator das propostas do pacote fiscal.

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"Não temos apoio nem da Câmara nem do Senado sem resolver o impasse do projeto votado e sancionado", disse ele.

Até o momento, só houve a aprovação da urgência aos dois projetos de lei do governo sobre o ajuste. A PEC, que é o principal texto e de tramitação mais difícil, está paralisada.

Não bastassem essas questões, a bancada do PSD da Câmara, partido do centrão que tem 44 deputados, tem se sentido desprestigiada no governo e gostaria de ter um ministério mais robusto para continuar a apoiar o Planalto, segundo uma fonte da legenda. Atualmente, o partido tem o deputado André de Paula (PSD-PE) como ministro da Pesca.

O partido tem outros dois ministérios, o da Agricultura e o de Minas e Energia, mas eles estão com representantes da bancada do Senado.

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