Bradesco está conservador para 2025, diz presidente

Por Paula Arend Laier

OSASCO, São Paulo (Reuters) -O Bradesco reduziu o apetite a risco no último trimestre de 2024, dada a piora de perspectivas macroeconômicas, notadamente a desvalorização do câmbio e alta dos juros, afirmou nesta sexta-feira o presidente-executivo do banco, Marcelo Noronha.

"No quarto trimestre, na hora que vimos o movimento de desvalorização do real mais acentuado e uma perspectiva diferente, efetivamente, para a taxa de juros, demos uma reduzida no apetite risco", afirmou o executivo a jornalistas sobre o balanço do banco divulgado mais cedo nesta sexta-feira.

"Estamos trabalhando de uma forma mais conservadora", acrescentou o executivo, em comentários após o banco reportar mais cedo nesta sexta-feira lucro líquido recorrente de R$5,4 bilhões para o quarto trimestre, um salto de 87,7% em relação ao mesmo período de 2023.

Nesse contexto, o Bradesco estimou expansão de 4% a 8% na carteira de crédito expandida neste ano uma desaceleração em relação a 2024, quando essa linha do balanço cresceu 11,9% em 2024, superando a previsão do banco, de aumento de 7% a 11%.

Noronha afirmou que vê um cenário com maior risco em 2025 do que em 2024, avaliando que as médias empresas devem sofrer um impacto maior do que as pessoas físicas. "Ela vai pagar custo acima de 20% ao ano, fica mais complicado dependendo do grau de alavancagem."

No quarto trimestre, a carteira de crédito do Bradesco para micro, pequenas e médias empresas apurou elevação de 28% ano a ano e 11,2% no trimestre, enquanto a carteira total registrou expansão de 11,9% e 4%, respectivamente.

O executivo afirmou que não espera problemas de inadimplência este ano, citando que o Bradesco está muito seguro com o que vem originando em crédito. "Nós estamos crescendo em carteiras com muita, muita qualidade, de uma forma geral", afirmou.

Noronha também reforçou que o banco está preparado para a piora do cenário macroeconômico, principalmente o avanço da Selic. "Todo mundo sofre... mas nós estamos muito mais tranquilos em relação a isso do que no passado."

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"FOOTPRINT", ROE

Noronha afirmou que a revisão da presença física do banco continuará em 2025, após uma redução de 1.385 pontos no ano passado, acima dos 1.000 que o banco calculava. O executivo não precisou números, mas afirmou que não será um "ajuste fino" e citou que a revisão contempla o teste de novos modelos de atendimento.

Em dezembro, o Bradesco tinha 2.305 agências no país, 2.970 postos de atendimento e 728 unidades de negócios.

O presidente do Bradesco afirmou que apesar da redução da presença física do banco no país o número de clientes cresceu 2,1 milhões no ano passado.

Questionado se a piora no cenário macro, com juros mais altos, poderia afetar a recuperação no retorno que o banco vem apresentando, Noronha admitiu que se o banco cresce mais devagar retarda um pouco o nível de retorno que poderia ter. "Não descarto um cenário melhor...mas temos que ter cautela", disse.

No quarto trimestre, o retorno sobre o patrimônio (ROAE) do Bradesco ficou em 12,7% no quarto trimestre, alta de 5,8 pontos percentuais frente aos mesmos meses de 2023 e de 0,3 ponto em relação ao trimestre imediatamente anterior.

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Em meio às discussões envolvendo o consignado privado, mecanismo para fortalecer as concessões de crédito com desconto em folha de pagamento para os trabalhadores do setor privado, Noronha afirmou que se trata de uma modalidade que tem um espaço interessante, a depender de algumas questões.

Um dos pontos, afirmou, seria a limitação de juros nessa modalidade, destacando que se isso for adotado a "perspectiva de um crescimento maior em cima dessas linhas pode ficar pelo caminho", dada a avaliação de risco diferenciada entre os clientes. "Ele limita a perspectiva de crescimento", reforçou.

Ainda na entrevista, o presidente da Bradesco Seguros, Ivan Gontijo, descartou a abertura de capital da unidade, afirmando que é uma divisão relevante, com números robustos, mas que está agregada à organização Bradesco. "Não está na mesa (IPO) nesse momento", afirmou.

(Edição Alberto Alerigi Jr.)

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