Em acordo, Eletrobras abre espaço para governo no conselho e deixa investimento em Angra 3

Por Leticia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) - Após pouco mais de um ano de negociações, a Eletrobras e União chegaram a um acordo para encerrar a ação no Supremo Tribunal Federal (STF) na qual o governo federal questionava seu limite de poder de voto na companhia elétrica.

Pelo acordo fechado, o governo passará a ter representatividade em conselhos da Eletrobras, enquanto a companhia deixará de ter obrigação de aportar recursos bilionários para a construção da usina nuclear de Angra 3 caso o projeto siga adiante.

Os termos da negociação fechada, que ainda precisam ser validados em assembleia de acionistas e homologados pelo STF, preveem que a União poderá indicar 3 dos 10 integrantes do conselho de administração e 1 dos 5 representantes do conselho fiscal da Eletrobras. Com a privatização, o governo tinha deixado de ter vaga cativa no conselho de administração.

O governo, por sua vez, aceitará que não poderá mais questionar a cláusula do estatuto da companhia que veda que qualquer acionista ou grupo de acionistas exerça votos em número superior a 10% do capital votante da companhia.

Depois da privatização da Eletrobras, concluída em 2022 sob o governo Jair Bolsonaro, a União passou a deter 43% do capital da Eletrobras, mas teve seu direito de voto restrito.

Quando assumiu a presidência em 2023, Luiz Inácio Lula da Silva passou a questionar a limitação e a própria privatização da companhia, classificando o processo como um "crime de lesa pátria", o que levou a AGU a entrar com processo no STF para tentar ampliar a influência do governo na companhia.

Pelo novo acordo, a Eletrobras se desobriga de investir em Angra 3, mas mantém as garantias de R$6,1 bilhões atualmente prestadas nos financiamentos já concedidos pelo BNDES e Caixa ao projeto nuclear.

Também será solicitado que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estruture "nova e ampla modelagem" para o projeto de Angra 3, que enfrenta resistências no governo para avançar devido aos custos bilionários.

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Um novo processo de conciliação no STF será instaurado exclusivamente para tratar de Angra 3, no qual Eletrobras e governo discutirão o novo estudo do BNDES, que deverá considerar "equilíbrio econômico-financeiro", "financiamento em condições de mercado" e "modicidade tarifária", afirmou a Eletrobras.

Segundo a negociação, a União envidará esforços para apoiar a Eletrobras em um processo de desinvestimento de sua participação na Eletronuclear. Isso deverá ocorrer a partir da atração de um novo acionista.

A Eletrobras também apoiará o projeto de extensão da vida útil da usina de Angra 1, emitindo R$2,4 bilhões em debêntures conversíveis, com prazo de 10 anos e custo equivalente à NTN-B, que serão adquiridas pela Eletrobras, de acordo com o andamento do projeto.

Em nota, a Advocacia-Geral da União (AGU) acrescentou que caberá à União "a tarefa de aprovar, nas empresas estatais sob seu controle, as decisões necessárias às condições e diretrizes previstas no Termo de Acordo".

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