Dólar tem leve alta na contramão do exterior devido a temores fiscais
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar à vista tinha leve alta frente ao real nesta sexta-feira, oscilando em margens estreitas e na contramão do recuo da moeda norte-americana no exterior, uma vez que os investidores ignoravam a agenda cheia de dados na sessão para focar em temores em relação ao cenário fiscal local.
Às 12h34, o dólar à vista subia 0,29%, a R$5,7767 na venda. Na semana -- encurtada pelo feriado do Carnaval --, a moeda acumula queda de 2,36%.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,16%, a R$5,803 na venda.
Neste pregão, predominava uma certa aversão ao risco no mercado de câmbio brasileiro, com os agentes financeiros reagindo ao anúncio feito pelo governo federal na véspera de um plano para tentar reduzir os preços de alimentos, o que levantava dúvidas sobre os impactos fiscais das medidas.
O vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou na quinta-feira que o governo vai zerar a alíquota de importação da carne e de outros produtos como parte de uma série de medidas para reduzir os preços de alimentos.
Ele afirmou que a decisão é parte de um "primeiro" conjunto de medidas, que também inclui zerar as alíquotas de importação de café, açúcar e milho, entre outros.
"(Há) risco fiscal no radar. Sobre isso, eu destacaria gastos do governo na tentativa de segurar a inflação de alimentos e demais despesas que podem impactar as contas públicas", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Bergallo também destacou o valor bem inferior do dólar no Brasil em relação ao fim do ano passado, na esteira de um movimento de correção que a divisa passou no início de 2025, o que estaria segurando novas apostas no real em meio a uma série de incertezas no exterior.
Como principal incerteza estariam os planos tarifários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem constantemente ameaçado parceiros comerciais com tarifas, mas recuado de forma frequente.
Em sua mais recente decisão, Trump isentou por um mês os produtos que se enquadrem em um pacto comercial da América do Norte das tarifas de 25% que ele havia imposto anteriormente sobre Canadá e México.
Diante desse cenário, o dólar avançava nesta sessão ante o real, apesar das fortes perdas da divisa dos EUA no exterior devido a dados mais fracos do que o esperado para a criação de empregos na maior economia do mundo em fevereiro.
O governo norte-americano informou que os empregadores do país criaram 151.000 postos de trabalho em fevereiro, de 125.000 vagas abertas em janeiro -- dado revisado para baixo.
Economistas consultados pela Reuters projetavam a abertura de 160.000 empregos no mês, de 143.000 vagas criadas em janeiro, conforme relatado anteriormente.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,44%, a 103,730.
O chair do Fed, Jerome Powell, vai discursar em uma conferência em Nova York às 14h30 (horário de Brasília), antes do início do período de silêncio para a próxima reunião do banco central dos EUA, em 18 e 19 de março. A expectativa é de que possa abordar temas globais.
No Brasil, os investidores também pareciam ignorar os dados econômicos divulgados nesta sexta.
O IBGE informou que o país cresceu menos do que o esperado no quarto trimestre de 2024, a 0,2%, de 0,7% no trimestre anterior, em dado revisado para baixo.
Economistas consultados pela Reuters projetavam que a economia brasileira expandiria 0,5% no período de outubro a dezembro do ano passado, ante o dado anterior à revisão de alta de 0,9% no trimestre de julho a setembro.
No ano, a atividade econômica do Brasil cresceu 3,4%.
(Edição de Camila Moreira)
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.