Em reviravolta surpreendente, Trump volta atrás sobre algumas tarifas e mercados disparam

Por Andrea Shalal e Susan Heavey e Andy Sullivan

WASHINGTON (Reuters) - Em uma reviravolta surpreendente, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta quarta-feira que reduziria temporariamente as pesadas tarifas impostas a dezenas de países e aumentaria ainda mais a pressão sobre a China, fazendo com que o mercado acionário norte-americano disparasse.

A reviravolta de Trump, que se deu menos de 24 horas após a implementação de novas tarifas à maioria dos parceiros comerciais, ocorreu após o episódio mais intenso de volatilidade do mercado financeiro desde os primeiros dias da pandemia da Covid-19. A turbulência apagou trilhões de dólares dos mercados de ações e levou a um aumento inquietante nos rendimentos dos títulos do governo dos EUA que pareceu chamar a atenção de Trump.

"Achei que as pessoas estavam um pouco exageradas, que estavam ficando "yippy", sabe", disse Trump aos repórteres após o anúncio, referindo-se a um termo do golfe.

Desde que retornou à Casa Branca em janeiro, Trump tem ameaçado repetidamente com uma série de medidas punitivas contra parceiros comerciais, apenas para revogar algumas delas no último minuto. A abordagem vaivém tem confundido os líderes mundiais e assustado os executivos de negócios, que dizem que a incerteza tem dificultado a previsão das condições de mercado.

Os eventos do dia deixaram em evidência a incerteza que cerca as políticas de Trump e como ele e sua equipe as criam e implementam.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que o recuo sempre foi o plano para levar os países à mesa de negociações. Trump, no entanto, indicou mais tarde que o quase pânico nos mercados que se desenrolou desde seus anúncios de 2 de abril havia influenciado seu pensamento. Apesar de insistir por dias que suas políticas nunca mudariam, ele disse aos repórteres nesta quarta-feira: "É preciso ser flexível".

Mas ele manteve a pressão sobre a China, o segundo maior fornecedor de importações dos EUA. Trump disse que aumentaria a tarifa sobre as importações chinesas para 125% em relação ao nível de 104% que entrou em vigor à meia-noite, aumentando ainda mais um confronto de alto risco entre as duas maiores economias do mundo. Os dois países têm trocado aumentos de tarifas repetidamente na última semana.

A reversão de Trump sobre as tarifas específicas de cada país não é absoluta. Uma tarifa geral de 10% sobre quase todas as importações dos EUA permanecerá em vigor, informou a Casa Branca. O anúncio também não parece afetar as tarifas sobre automóveis, aço e alumínio que já estão em vigor.

Continua após a publicidade

O congelamento de 90 dias também não se aplica às tarifas pagas pelo Canadá e pelo México, porque seus produtos ainda estão sujeitos a tarifas de 25% relacionadas ao fentanil se não estiverem em conformidade com as regras de origem do acordo comercial entre os EUA, México e Canadá. Essas tarifas permanecem em vigor até o momento, com uma isenção indefinida para produtos em conformidade com o USMCA.

"É improvável que a China mude sua estratégia: manter-se firme, absorver a pressão e deixar que Trump se exceda. Pequim acredita que Trump vê as concessões como uma fraqueza e, portanto, ceder apenas convida a mais pressão", disse Daniel Russel, vice-presidente de segurança internacional e diplomacia do Asia Society Policy Institute.

"Outros países receberão de bom grado a suspensão da execução por 90 dias -- se ela durar -- mas o efeito chicote dos constantes ziguezagues cria mais incertezas que as empresas e os governos detestam", disse Russel.

Os índices acionários dos EUA dispararam com a notícia, com o índice de referência S&P 500 fechando em alta de 9,5%. Os rendimentos dos títulos deixaram as máximas anteriores e o dólar se recuperou em relação às moedas consideradas como portos-seguros.

As tarifas de Trump desencadearam uma venda que durou dias e apagou trilhões de dólares das ações globais e pressionou os títulos do Tesouro dos EUA e o dólar, que formam a espinha dorsal do sistema financeiro global. O Canadá e o Japão disseram que interviriam para proporcionar estabilidade, se necessário -- uma tarefa geralmente realizada pelos Estados Unidos em épocas de crise econômica.

Analistas disseram que o aumento repentino nos preços das ações pode não desfazer todos os danos. Pesquisas têm revelado uma desaceleração dos investimentos empresariais e dos gastos das famílias devido às preocupações com o impacto das tarifas, e uma pesquisa Reuters/Ipsos revelou que três em cada quatro norte-americanos esperam que os preços aumentem nos próximos meses.

Continua após a publicidade

A Goldman Sachs reduziu sua probabilidade de recessão para 45% após a decisão de Trump, ante 65%, afirmando que as tarifas mantidas em vigor ainda poderiam resultar em um aumento de 15% na taxa geral de tarifas.

O secretário Bessent ignorou as perguntas sobre a turbulência do mercado e disse que a reversão abrupta recompensou os países que atenderam ao conselho de Trump de não retaliar. Ele sugeriu que Trump havia usado as tarifas para criar o máximo de alavancagem nas negociações: "Essa foi a estratégia dele o tempo todo", disse Bessent aos repórteres. "E pode-se até dizer que ele induziu a China a uma posição ruim."

Bessent é a pessoa responsável pelas negociações entre os países, que podem tratar de ajuda externa e cooperação militar, além de questões econômicas. Trump já conversou com os líderes do Japão e da Coreia do Sul, e uma delegação do Vietnã deveria se reunir com autoridades norte-americanas nesta quarta-feira.

Bessent se recusou a dizer quanto tempo as negociações com os mais de 75 países que entraram em contato podem levar.

Trump disse que uma resolução com a China também é possível. Mas as autoridades disseram que priorizarão as negociações com outros países.

"A China quer fazer um acordo", disse Trump. "Eles simplesmente não sabem como fazer isso."

Continua após a publicidade

Trump disse aos repórteres que estava considerando uma pausa há vários dias. Na segunda-feira, a Casa Branca denunciou uma notícia de que o governo estava considerando tal medida, chamando-a de "notícia falsa"

Mais cedo nesta quarta-feira, antes do anúncio, Trump tentou tranquilizar os investidores, postando em sua conta no Truth Social: "Fiquem tranquilos! Tudo vai dar certo. Os EUA serão maiores e melhores do que nunca!"

Mais tarde, ele acrescentou: "ESTE É UM ÓTIMO MOMENTO PARA COMPRAR!!!"

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.