Vendas no varejo do Brasil avançam em fevereiro e atingem maior patamar da série

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - As vendas do setor varejista voltaram a registrar leve aumento em fevereiro, quando atingiram o maior patamar da série histórica, mesmo diante de um esperado processo de desaceleração econômica do país em meio a condições monetárias restritivas.

As vendas cresceram 0,5% em fevereiro sobre o mês anterior, de acordo com dados com ajuste sazonal divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado levou o setor ao maior nível da série histórica iniciada em janeiro de 2000, superando em 0,3% o nível recorde anterior, de outubro de 2024.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve aumento de 1,5% nas vendas.

Os resultados ficaram em linha com as expectativas em pesquisa da Reuters, de altas de 0,5% na comparação mensal e de 1,6% na base anual..

O cenário à frente, entretanto, é de inflação ainda alta, política monetária contracionista e acomodação no mercado de trabalho, o que pode levar os consumidores a mostrarem gradualmente menos ímpeto este ano.

"Apesar do resultado positivo,... vemos uma moderação no consumo, consistente com a desaceleração da atividade. O desempenho no mês foi quase todo devido à alta nas vendas em supermercados, um consumo essencial. A maior parte do consumo discricionário variou moderadamente ou apresentou recuo", destacou André Valério, economista sênior do banco Inter, citando que o volume de vendas sensível ao crédito, por exemplo, recuou 1,3% em fevereiro.

Também pairam sobre o cenário os efeitos sobre a economia global das tarifas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vêm abalando os mercados.

Continua após a publicidade

Especialistas preveem um crescimento moderado das vendas no varejo, contribuindo para uma desaceleração da atividade econômica, diante de uma taxa de juros em patamar elevado, de 14,25% atualmente.

"Para 2025, mesmo com o índice de atividade tendo atingido novo recorde histórico, o ritmo de expansão deve desacelerar, com segmentos mais sensíveis ao endividamento... enfrentando maior pressão, enquanto hipermercados, supermercados e perfumaria tendem a continuar sustentados pelo consumo das famílias", avaliou Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay.

Entre as oito atividades pesquisadas na pesquisa do IBGE sobre o varejo, quatro avançaram em fevereiro, com destaque para Hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,1%) e Móveis e eletrodomésticos (0,9%).

"Em fevereiro, observamos a volta de um protagonismo para o setor de hiper e supermercados, após um período de seis meses, desde agosto, com variações próximas de zero", destacou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.

Segundo ele, o que explica o crescimento das vendas em supermercados é o fato de "condições macroeconômicas mais complexas" levarem as pessoas a optar por produtos mais básicos.

Ele citou como exemplo dessas condições "a queda do número de pessoas ocupadas, a estabilidade da massa de rendimento real e a inflação da alimentação em domicílio, (que) não incentivam o consumo de bens que não sejam de primeira necessidade".

Continua após a publicidade

No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças; material de construção e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo, houve queda de 0,4% nas vendas em fevereiro ante janeiro.

A pressão veio de Veículos e motos, partes e peças, cujas vendas recuaram 2,6% no período.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.