BC diz que empréstimos de maior risco seguiram acelerando mesmo com aperto monetário
(Corrige erro de digitação no título, sem alteração no corpo do texto)
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central apontou nesta terça-feira que o crédito às famílias persistiu acelerando em modalidades de maior risco, incluindo para tomadores com menor renda, mesmo diante do início do ciclo de aperto monetário em setembro do ano passado.
Em seu Relatório de Estabilidade Financeira referente ao segundo semestre de 2024, a autarquia apontou que no crédito bancário às pessoas físicas a aceleração foi mais acentuada para financiamento de veículos e crédito não consignado.
Autoridades do BC têm alertado que linhas de crédito de alto risco para pessoas físicas têm baixa sensibilidade à política monetária, defendendo que o sistema seja repensado para fortalecer as concessões de empréstimos com garantia, reduzindo custos às famílias.
"Não obstante o início do aperto monetário em setembro de 2024, o crédito às famílias persistiu acelerando em modalidades de maior risco e para tomadores com menor renda", disse o BC no documento.
"Houve leve piora na qualidade das contratações do crédito não consignado e aumento do financiamento de veículos mais antigos e com entrada menor."
O crédito a pessoas jurídicas, por sua vez, acelerou para empresas de todos os portes, com aumento das contratações, enquanto as grandes empresas também continuaram buscando o mercado de capitais, "que permanece ganhando representatividade como fonte de financiamento".
A autarquia tem defendido uma desaceleração da atividade para levar a inflação à meta de 3%, apontando que o crédito é um canal de transmissão relevante da política monetária para os preços, em meio a iniciativas do governo para estimular as concessões de financiamentos.
FORTE IMPACTO PARA EMPRESAS
Em relação à política monetária, o BC estimou que o atual ciclo de aumento da taxa de juros, atualmente em 14,25% e com expectativa de nova alta na próxima semana, terá forte impacto para as empresas não financeiras, porém mais moderado que durante a recessão de 2015-2016.
O BC estimou o Índice de Cobertura de Juros (ICJ), que mede a capacidade de uma empresa administrar sua dívida, e o Retorno sobre o Patrimônio das empresas de capital aberto no horizonte de um ano, a partir dos dados disponíveis em setembro de 2024, de acordo com o relatório.
"A capacidade de pagamento das empresas cairá expressivamente. Contudo, a situação das empresas com ICJ menor que 1 seria melhor do que a verificada durante a recessão e a pandemia de Covid-19. A rentabilidade, por sua vez, cairá para um nível menor do que o verificado na pandemia, porém maior do que o observado em 2015-2016", explicou.
O BC ponderou que as instituições financeiras indicaram mais cautela no apetite ao risco em 2025, em um ambiente em que riscos fiscais ganharam mais relevância e de percepção de piora no ciclo econômico e financeiro.
O BC ainda considerou que não há risco relevante para a estabilidade financeira.
"O SFN (Sistema Financeiro Nacional) permanece com capitalização e liquidez confortáveis e provisões adequadas ao nível de perdas esperadas. Além disso, os testes de estresse de capital e de liquidez demonstram a robustez do sistema bancário", afirmou.
Segundo o relatório, a confiança na estabilidade do Sistema Financeiro Nacional permanece elevada.
O relatório apontou que os riscos fiscais aparecem como importantes para as instituições pesquisadas, reflexo principalmente de preocupações com a sustentabilidade da dívida pública.
Segundo o BC, as instituições pesquisadas demonstraram também preocupação com a possibilidade de desaceleração acentuada da economia e de aumento da inadimplência, em um cenário de elevado endividamento de famílias e empresas.
O relatório ressaltou que, apesar do dinamismo da economia doméstica, a capacidade de pagamento de famílias e empresas segue desafiadora, citando que o comprometimento de renda das famílias é historicamente alto e em ascensão.
RISCOS CLIMÁTICOS
As instituições financeiras destacaram ainda, segundo o relatório, que riscos climáticos se materializaram com mais força em 2024 do que no ano anterior, mas o impacto foi considerado baixo.
"No entanto, permanece a avaliação de que seca é o evento climático mais relevante em termos de impacto esperado nos ativos das IFs no longo prazo", disse o BC.
"As maiores exposições do SFN ao risco climático físico estão relacionadas a eventos de secas, aos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Pampa, e ao macrossetor de bens de consumo básico, no qual incluem-se a agricultura e a pecuária", completou.
(Por Camila Moreira e Bernardo Caram)
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