Brasil rejeita pedido dos EUA para enquadrar PCC e CV como organizações terroristas
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro rechaçou um pedido apresentado pelo Departamento de Estado norte-americano para enquadrar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), que as autoridades dos EUA acreditam ter membros no país, como organizações terroristas, disse o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubo, à Reuters nesta quarta-feira.
O pedido foi feito na terça-feira durante uma reunião entre David Gamble, que lidera a estratégia de sanções do Departamento de Estado dos EUA, seis outros funcionários do governo do presidente dos EUA, Donald Trump, e oito autoridades brasileiras em Brasília, de acordo com Sarrubo.
Trump tem tentado vincular sua repressão agressiva à imigração à presença de membros de gangues criminosas latino-americanas em cidades dos EUA. No início deste ano, o governo norte-americano classificou vários cartéis de drogas como organizações terroristas, incluindo o venezuelano Tren de Aragua e o salvadorenho MS13.
"Não temos organizações terroristas aqui, temos organizações criminosas que estão em um estágio de infiltração na sociedade. Eu mesmo digo que sob certos aspectos uma atuação como máfia", disse Sarrubo
"Mas daí para você classificar como o terrorismo? Terrorismo tem outro conceito para nós, brasileiros, distante do que a gente vê nas organizações criminosas", afirmou ele, que não participou da reunião de terça-feira, por ter sido de nível técnico.
Foi relatado na reunião, conforme uma fonte com conhecimento do encontro, que o FBI disse haver a presença de integrantes do PCC e do CV em 12 Estados norte-americanos, principalmente em Massachusetts, Nova Jersey, Nova York, Flórida, Connecticut e Tennessee.
Conforme os relatos, as duas quadrilhas lavam dinheiro ilegalmente por meio da presença de brasileiros que viajam para os EUA. Somente no ano de 2024, disseram, foram negados os vistos de entrada de 113 pessoas com indicações de conexões com essas organizações.
Os imensos lucros com as operações das quadrilhas, argumentaram os representantes do governo Trump, são lavados nos EUA em operações com criptomoedas e outras formas que acabam por burlar a repressão das legislações brasileiras e dos Estados Unidos.
Nas últimas semanas, o governo Trump deportou centenas de imigrantes latino-americanos, alegando que eles eram membros de gangues, embora tenha apresentado poucas evidências de seus vínculos criminosos.
Na reunião em Brasília, as autoridades norte-americanas informaram aos seus colegas brasileiros que sua solicitação fazia parte de um esforço para abordar a imigração e as gangues criminosas com presença transnacional, dizendo que elas eram prioridades para o governo Trump, disse uma fonte presente.
Autoridades dos EUA disseram que uma designação terrorista poderia ajudar o governo a aplicar sanções, levantar recursos e atingir cadeias de suprimentos criminosas, acrescentou a mesma fonte.
Em março, o Ministério Público dos EUA acusou 18 brasileiros de tráfico de diversos tipos de armas de fogo dentro dos EUA. Algumas das atividades ilegais, disse o governo, tinham ligações com o PCC, e muitos dos brasileiros acusados estavam ilegalmente nos EUA.
Na segunda-feira, o presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, Flávio Bolsonaro (PL), entregou a integrantes da comitiva do governo Trump um dossiê com informações de inteligência que relacionaria o PCC e o CV ao terrorismo, segundo a assessoria do parlamentar.
Procurada, a Embaixada dos EUA em Brasília não respondeu de imediato a pedido de comentário.
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