Taxas dos DIs curtos tendem a ceder na quinta-feira após comunicado dovish do BC
Por Fabricio de Castro
(Reuters) - As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de curto prazo tendem a passar por ajustes de baixa nesta quinta-feira, após o comunicado de política monetária do Banco Central trazer elementos que podem ser considerados dovish (suaves com a inflação), avaliaram profissionais ouvidos pela Reuters.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa básica Selic em 50 pontos-base nesta quarta-feira, para 14,75% ao ano, mas indicou que o ciclo de altas pode estar encerrado.
Ainda que não tenha se comprometido de fato com isso, deixando a porta aberta para uma elevação adicional de 25 pontos-base em junho, o BC trouxe em seu comunicado fatores que justificariam o fim do ciclo, avaliou Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos.
“O comunicado deixa uma mensagem clara de que o Copom está bastante inclinado a interromper o ciclo de alta. Porque ele comenta a respeito da necessidade de se avaliar os efeitos acumulados da política monetária, indicando que ainda tem efeito de juros para aparecer na economia”, afirma Fonseca. “E o BC reconheceu que o juro está em um patamar contracionista.”
Fonseca e outros profissionais chamaram atenção ainda para o fato de, desta vez, o balanço de riscos para a inflação formulado pelo BC ser simétrico, inclusive com o acréscimo de um risco baixista para os preços.
“Em março colocavam que o balanço de riscos da inflação brasileira tinha assimetria altista”, lembrou Alexandre Maluf, economista de inflação da XP. “Nesta reunião, ele (o Copom) coloca elementos tanto de baixa quanto de alta, de maior intensidade, e nos componentes destaca três riscos de alta e três de baixa -- inclusive eles incluem, neste balanço de riscos, uma redução de preços das commodities, como efeito desinflacionário aqui no Brasil.”
Para Flávio Serrano, economista-chefe do Bmg, dado o balanço de riscos neutro do comunicado desta quarta-feira, há tendência de elevação das apostas, na quinta-feira, de que o Copom manterá a Selic em 14,75% em junho, confirmando o fim do ciclo.
“Isso significa uma tendência de baixa na ponta curta (da curva a termo na quinta), ainda que possa não mudar muito. A Selic ficará em 14,75% ou 15,00% (no fim do ciclo)”, pontuou.
Serrano ponderou ainda que, nesta quarta, as taxas na ponta curta da curva tiveram altas, o que deixaria espaço para ajustes em baixa na quinta.
Na terça-feira -- atualização mais recente – o mercado de opções de Copom da B3 já precificava 53,00% de probabilidade de o Copom manter a Selic em junho, contra 33,50% de chances de elevação de 25 pontos-base e 11,00% de probabilidade de nova alta de 50 pontos-base -- neste terceiro caso, uma alternativa que parece mais distante ainda após o comunicado desta quarta.
“A decisão de hoje (quarta-feira) tem efeito sobre a curva, porque parte do mercado precificava uma alta de 25 pontos-base (em junho). A ponta curta deve tirar boa parte desta precificação”, afirmou Fonseca, da Reag.
Para o JPMorgan, embora o BC ainda possa elevar a Selic em 25 pontos-base em junho, a expectativa é de que o último aumento da taxa básica seja, de fato, o desta quarta-feira.
"Antecipamos que a taxa básica permanecerá em 14,75% até novembro deste ano, quando esperamos que a desaceleração econômica e as perspectivas desinflacionárias permitam ao BCB iniciar o processo de cortes nos juros", avaliou a instituição.
Já a ponta longa da curva tende a ficar mais sujeita à influência dos Treasuries, conforme alguns profissionais, após o Federal Reserve ter mantido sua taxa de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, indicando -- assim como o BC brasileiro -- cautela nos próximos passos.
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