Taxas dos DIs para 2028 e 2029 cedem em dia de ajustes técnicos pós-Copom

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - A curva de juros brasileira passou por ajustes técnicos importantes nesta quinta-feira pós-reunião do Copom, que levaram as taxas dos DIs para janeiro de 2028 e janeiro de 2029 a apresentarem quedas firmes, em meio à leitura de que aumentaram as chances de o Banco Central, em um momento posterior ao fim do atual ciclo de alta, iniciar o processo de cortes da taxa básica Selic.

Entre os contratos de curtíssimo prazo, as taxas subiram também em reação ao Copom, com o mercado ajustando apostas para o encontro de junho do colegiado, vendo em alguns momentos chances divididas de o BC parar o ciclo de altas da Selic ou promover aumento adicional de 25 pontos-base.

O avanço firme dos rendimentos dos Treasuries no exterior, por sua vez, exerceu pressão contrária, segurando um pouco a queda das taxas dos DIs na “barriga da curva”, de prazo médio, e na ponta longa.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 -- um dos mais líquidos no curto prazo -- estava em 14,795%, ante o ajuste de 14,735% da sessão anterior.

Na “barriga da curva”, a taxa do DI para janeiro de 2028 marcava 13,445%, em baixa de 10 pontos-base ante o ajuste de 13,547%, enquanto o DI para janeiro de 2029 marcou 13,41%, em queda de 13 pontos-base ante 13,542%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2033 estava em 13,13,64%, em baixa de 10 pontos-base ante 13,698% do ajuste anterior.

Na noite de quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou uma alta de 50 pontos-base da Selic, para 14,75% ao ano, como era largamente esperado.

Ao mesmo tempo, deixou a decisão no encontro de junho em aberto, dependente dos dados econômicos, podendo tanto encerrar o ciclo de altas quanto promover uma última elevação, desta vez de 25 pontos-base, segundo interpretações do mercado.

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Um dos pontos de atenção foi o fato de o Copom, em seu comunicado, ter retirado a avaliação de que o balanço de riscos para a inflação está assimétrico para cima -- algo que constava no comunicado anterior, de março. Além disso, o colegiado incluiu um novo risco baixista para a inflação, o de que haja redução nos preços das commodities, com efeitos desinflacionários.

Profissionais ouvidos pela Reuters na véspera e nesta quinta-feira interpretaram que o BC, considerando o que foi expresso no comunicado, pode de fato encerrar o ciclo de alta com a Selic em 14,75% ao ano.

“E uma vez encerrado o processo de alta, aumenta a probabilidade de o BC cortar a Selic mais à frente. Essa probabilidade maior de cortar juros n futuro -- já que o BC vai parar de aumentar agora -- se refletiu na queda das taxas para janeiro de 2028 e janeiro de 2029”, comentou o economista-chefe do Bmg, Flavio Serrano.

A taxa do DI para janeiro de 2028 marcou o menor patamar da sessão, de 13,37%, às 11h38, em baixa de 18 pontos-base ante o ajuste da véspera. Já a taxa para janeiro de 2029 marcou a mínima de 13,35% no mesmo horário, em queda de 19 pontos-base.

O recuo das taxas na “barriga da curva” arrastou as taxas dos DIs mais longos, que também cederam -- ainda que em intensidade menor na maior parte do dia.

Na parte curta da curva, no entanto, as taxas avançaram, com o mercado também promovendo ajustes técnicos em relação ao Copom. Neste trecho a leitura foi de que, ainda que possa parar de elevar os juros, o BC deixou a porta aberta para promover mais um aumento residual em junho, de 25 pontos-base. Em alguns momentos da sessão, a probabilidade ficou praticamente dividida entre a manutenção e a alta de 25 pontos-base.

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“O mercado está na dúvida se o BC parou ou não (de subir a Selic) em maio. Mas com certeza aumentaram as chances de redução da Selic em breve. Dado isso, o mercado trabalha com os cortes de juros à frente”, resumiu Serrano.

A analista Lais Costa, da Empiricus Research, chamou a atenção para o fato de, no comunicado, o Copom projetar uma inflação de 3,6% em 2026 -- ainda acima do centro da meta contínua perseguida, de 3%.

“Se a política monetária só tem efeito no horizonte relevante, o BC não poderia parar de subir juros se a Selic não está caminhando para a meta”, pontuou. “Então, o mercado duvida um pouco que o BC vai de fato parar... é o mercado duvidando que vai conseguir parar tão rápido. E aí as taxas (futuras) caem na (ponta) longa”, acrescentou.

O recuo das taxas entre os contratos a partir de janeiro de 2028 não foi maior porque, no exterior, os rendimentos dos Treasuries apresentavam ganhos firmes.

Os yields reagiam a fatores como o otimismo em torno de um acordo comercial entre Estados Unidos e Reino Unido, o leilão de títulos de 30 anos promovido pelo Tesouro norte-americano e, pela manhã, dados mostrando a queda do número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA.

Às 16h42, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 10 pontos-base, a 4,375%.

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