Tarifas vão aumentar a inflação e desacelerar o crescimento ainda este ano, diz diretor do Fed

(Reuters) - As políticas comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provavelmente elevarão a inflação, reduzirão o crescimento e aumentarão o desemprego ainda este ano, disse o diretor do Federal Reserve Michael Barr, deixando para as autoridades tomar uma decisão potencialmente complicada sobre qual problema combater.

"O tamanho e o escopo dos recentes aumentos de tarifas não têm precedentes modernos, não conhecemos sua forma final e é muito cedo para saber como eles afetarão a economia", disse Barr nesta sexta-feira em comentários preparados para evento do banco central da Islândia.

Mas os riscos são claros, indicou ele.

"Em minha opinião, tarifas mais altas podem levar à interrupção das cadeias de suprimentos globais e criar uma pressão persistente de alta sobre a inflação", disse ele, observando que levará tempo para que as empresas redirecionem as redes de distribuição.

Alguns fornecedores, principalmente as pequenas empresas, talvez não consigam se adaptar com rapidez suficiente e podem falir, disse ele, aumentando os problemas na cadeia de oferta.

"Estou igualmente preocupado com o fato de que as tarifas levarão a um aumento do desemprego à medida que a economia desacelera", disse Barr. "Assim, o Fed pode estar em uma posição difícil se observarmos tanto o aumento da inflação quanto o aumento do desemprego."

Os comentários de Barr ecoaram em grande parte a orientação do chair do Fed, Jerome Powell, na quarta-feira, depois que o banco central dos EUA manteve os custos de empréstimos de curto prazo e sinalizou uma abordagem de esperar para ver na fixação das taxas.

A política monetária, disse Barr, está "em uma boa posição para se ajustar à medida que as condições se desenrolarem", dada a força da economia e do mercado de trabalho antes de Trump anunciar tarifas abrangentes em 2 de abril.

Ao responder a uma pergunta no evento, Barr disse que o Fed precisa ser paciente ao avaliar como as tarifas afetarão a economia - especialmente a inflação e o desemprego - antes de fazer qualquer ajuste na taxa de juros.

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"O crescimento tem sido forte no último ano e continua forte hoje. A taxa de desemprego tem sido baixa e estável por um longo período de tempo, e ainda não sabemos como as tarifas vão se comportar", disse Barr. "Portanto, precisamos esperar para ver".

Em fevereiro, Barr renunciou ao cargo de vice-presidente de supervisão do Fed para evitar um confronto aberto com Trump, que quer reduzir a regulamentação em uma ampla gama de setores. Nomeado pelo ex-presidente norte-americano, Joe Biden, Barr havia pressionado por regras mais rígidas para os bancos durante seu mandato.

Trump nomeou a diretora do Fed, Michelle Bowman, uma crítica frequente da abordagem de Barr, para assumir o cargo de chefe de regulamentação do banco central.

Em um movimento incomum, Barr permaneceu como diretor do Fed, e o discurso desta sexta-feira marca seus primeiros comentários sobre política monetária em cerca de um ano.

(Reportagem de Ann Saphir)

((Tradução Redação São Paulo)) REUTERS CMO

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