Dólar avança após governo aumentar alíquotas no IOF

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista avançava ante o real nesta sexta-feira, a caminho de fechar a semana com ganhos, à medida que os investidores repercutiam o anúncio pelo governo na véspera de aumento nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), com um recuo parcial da iniciativa detalhado nesta manhã.

Às 9h50, o dólar à vista subia 0,74%, a R$5,7029 na venda. Na semana, a moeda acumula alta de 0,6%

Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 1,16%, a R$5,696 reais na venda.

O governo anunciou na tarde de quinta-feira elevações do IOF com impacto sobre empresas, operações de câmbio e previdência privada, com previsão de arrecadação de R$20,5 bilhões em 2025 e R$41 bilhões em 2026, medida que, ao lado de uma contenção das despesas orçamentárias também anunciada na quinta, contribuiria para o cumprimento da meta fiscal de déficit zero neste ano.

Durante a noite, entretanto, o governo recuou de parte das medidas anunciadas, em mudança que deve reduzir o ganho de arrecadação em aproximadamente R$6 bilhões até 2026. Um novo decreto foi publicado na manhã desta sexta-feira no Diário Oficial da União.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a revisão pontual se deu para evitar "especulações" sobre uma inibição de investimentos ou outras mensagens que divergissem do objetivo do governo.

"Nós entendemos que, pelas informações recebidas, valia a pena fazer uma revisão desse item para evitar especulações sobre objetivos que não são próprios da Fazenda nem do governo, de inibir investimento fora, não tinha nada a ver com isso", afirmou mais cedo em pronunciamento à imprensa.

De acordo com analista ouvido pela Reuters, a reação negativa do mercado ao anúncio, que pressionava o real nesta sessão, tem relação com a comunicação da medida, e não necessariamente com o conteúdo em si após os recuos.

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O governo fez o anúncio no mesmo dia que divulgou o bloqueio de R$31,3 bilhões em despesas de ministérios a fim de garantir o cumprimento da meta de déficit zero e das regras do arcabouço fiscal.

"O governo encarou de frente uma questão difícil, relacionada ao ajuste fiscal, e sabemos da dificuldade e do desgaste político para isso. Novamente, por uma falha na estratégia de comunicação, o que era para ser bom ficou ruim", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

"Impressão nossa era que inviabilizaria o câmbio no varejo. Então, o mercado digeriu muito mal isso. Esse aumento de IOF soou como desespero e o mercado interpretou como uma tentativa de controle excessivo sobre saída de dólares do país", completou.

Para Bergallo, a "correção de rota foi absolutamente bem vinda".

No cenário externo, as tensões comerciais voltavam à tona após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar mais cedo que seu governo pode impor tarifa de 25% sobre a Apple para iPhones vendidos mas não fabricados no país e que recomendou uma taxa de 50% sobre a União Europeia a partir de 1º de junho.

A política comercial dos EUA tem sido o grande fator para a tomada de decisões de investidores neste ano, com analistas temendo que as altas taxas de Trump sobre alguns dos principais parceiros comerciais possam provocar uma recessão global.

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As preocupações fiscais com a maior economia do mundo também continuam no radar, após a Câmara dos Deputados dos EUA aprovar na véspera uma legislação tributária que pode acrescentar trilhões de dólares à dívida do país.

O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,60%, a 99,311.

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