BTG avalia que oferta de Tanure por Braskem pode ser novo capítulo, mas prefere cautela
SÃO PAULO (Reuters) - Analistas do BTG Pactual afirmaram que a oferta apresentada pelo empresário Nelson Tanure para assumir a Braskem pode marcar o início de um novo capítulo na narrativa de controle da petroquímica, mas acrescentaram que preferem permanecer com um posição cautelosa até que haja mais clareza.
"O momento da oferta também levanta questões -- com as ações perto de mínimas cíclicas devido aos fracos fundamentos do setor e passivos em Alagoas, ela pode não representar um ponto de saída ideal para a Novonor ou seus credores", afirmara Luiz Carvalho e Henrique Pérez, em relatório a clientes.
Na sexta-feira, a Braskem divulgou que a Novonor recebeu proposta não vinculante de fundo detido por Tanure para aquisição do controle da petroquímica. A Novonor, antiga Odebrecht, tem 50,1% do capital votante da petroquímica. A Petrobras possui 47%.
"Nosso compromisso é com o longo prazo, com a indústria nacional e com a construção de uma Braskem ainda mais forte", disse Tanure em nota à imprensa.
Ainda na sexta-feira, o empresário assinou um termo de entendimento para a aquisição dos papéis da petroquímica pertencentes à Novonor.
O BTG ressaltou que a proposta segue sujeita à due diligence e a algumas condições, como o cumprimento de obrigações da Novonor sob o acordo de acionistas da Braskem com a Petrobras e sucesso em negociações com os bancos credores, que detêm mais de R$15 bilhões em empréstimos lastreados em ações da Braskem.
As ações da Braskem fecharam em alta de mais de 9% na sexta-feira após notícias relacionadas à oferta -- confirmadas pela empresa e por Tanure apenas após o fechamento. Nesta sessão, os papéis disparavam 8,3%, a R$12,01 -- distante das máximas históricas do papel, ao redor de R$60, registradas em 2021.
A equipe do BTG citou que, embora muitos detalhes, incluindo sobre preço e governança, não estejam claros, o interesse de investidores cresceu sobre o tema e elencou alguns pontos envolvendo a transação, entre eles o de que a opinião da Petrobras é uma incógnita crucial.
"Como acionista significativa e principal fornecedora de matéria-prima da Braskem, a Petrobras detém considerável influência. A aceitação do Sr. Tanure como parte do acordo de acionistas é incerta -- e pode, em última análise, determinar a viabilidade da transação", afirmaram no relatório.
Procurada pela Reuters na sexta-feira, a Petrobras preferiu não comentar. Tanure, por sua vez, afirmou na nota de sexta-feira que "não há futuro promissor para a Braskem sem uma atuação conjunta, construtiva e duradoura ao lado da Petrobras".
Os analistas do BTG também citaram que há um "limbo" sobre os direitos de tag along. Carvalho e Pérez acrescentam que, caso a Novonor mantenha uma participação minoritária e Tanure simplesmente adira ao acordo de acionistas existente, é possível que a cláusula de tag along não seja acionada
Tal cenário, avaliam, pode decepcionar os investidores que antecipam um evento de liquidez por mudança de controle.
A Novonor vem tentando vender sua fatia na Braskem há anos, mas fracassou repetidamente em fechar um acordo, apesar de negociações com a Adnoc, de Abu Dhabi, a LyondellBasell, a Unipar Carbocloro e a J&F.
Os analistas do BTG ainda observaram que, mesmo que a transação avance, é incerto se um novo acionista traria melhorias significativas em governança ou operações.
Eles destacaram que o desempenho da Braskem permanece fortemente atrelado aos spreads petroquímicos globais, onde a visibilidade é baixa. Estruturalmente, reforçam, a empresa permanece em desvantagem devido ao seu perfil de matéria-prima com alta concentração de nafta.
(Por Paula Arend Laier)
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