Taxas de DIs longas sobem sob influência dos Treasuries em meio à cautela com área fiscal

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - A curva a termo brasileira passou por um dia de inclinação nesta segunda-feira, com as taxas dos DIs de curto prazo encerrando perto da estabilidade e as de longo prazo em alta, refletindo a cautela com as discussões em Brasília sobre medidas fiscais e o avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após novas ameaças tarifárias dos EUA.

O recuo do dólar ante o real amenizou o movimento, mas ainda assim as taxas a partir de janeiro de 2027 avançaram.

No fim da tarde desta segunda-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 -- um dos mais líquidos no curto prazo -- estava em 14,785%, ante o ajuste de 14,795% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2027 marcava 14,165%, em alta de 3 pontos-base ante o ajuste de 14,134%.

Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,83%, ante 13,731% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,88%, em alta de 9 pontos-base ante 13,786%.

Na sexta-feira o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que planeja aumentar as tarifas sobre aço e alumínio importados de 25% para 50%, elevando a pressão sobre os produtores globais de aço.

Também na sexta-feira, Trump acusou a China de violar um acordo entre os dois países para reduzir mutuamente as tarifas e as restrições comerciais sobre minerais essenciais.

Os ataques de Trump seguiram reverberando nos mercados globais nesta segunda-feira, com os investidores se desfazendo de dólares e de Treasuries, em meio às incertezas sobre a política comercial dos EUA.

O avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior deu força às taxas dos DIs no Brasil, em especial entre os vencimentos a partir de janeiro de 2027.

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Operador ouvido pela Reuters pontuou que, além da influência externa, as taxas eram sustentadas pelo “barulho” em Brasília, onde seguem as discussões sobre medidas fiscais. Pela manhã o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que espera solucionar nesta semana a questão das mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) combinadas com medidas estruturais que busquem equacionar a questão fiscal.

Segundo Haddad, os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), mostraram disposição em discutir medidas fiscais estruturais, e não apenas soluções paliativas para as contas públicas.

Desde 22 de maio, quando o Ministério da Fazenda anunciou elevações de várias alíquotas de IOF para cumprir a meta fiscal do ano, os ativos brasileiros vêm sendo pressionados, ainda que o governo tenha voltado atrás em algumas medidas. O Congresso, por sua vez, tem criticado as medidas relacionadas ao IOF.

Profissionais do mercado ouvidos pela Reuters nos últimos dias vêm afirmando que a indefinição sobre as medidas fiscais é um fator negativo para o real e para os DIs.

Neste cenário, a taxa do DI para janeiro de 2033 atingiu a máxima de 13,91% às 14h47, em alta de 12 pontos-base ante o ajuste da sexta-feira.

Entre os contratos mais curtos, porém, as taxas se mantiveram próximas da estabilidade, com o mercado seguindo com apostas majoritárias de que o Banco Central manterá a taxa básica Selic em 14,75% ao ano em seu encontro de política monetária de junho.

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Perto do fechamento desta segunda-feira a curva a termo precificava 88% de probabilidade de manutenção da Selic este mês, contra 12% de chance de elevação de 25 pontos-base. Na sexta-feira os percentuais eram de 86% e 14%, respectivamente.

No mercado de opções de Copom da B3, a precificação na sexta-feira -- atualização mais recente -- era de 65,00% de probabilidade de manutenção da Selic em junho, 32,50% de chances de alta de 25 pontos-base e 2,00% de possibilidade de elevação de 50 pontos-base.

No relatório Focus desta segunda-feira, a projeção mediana dos economistas para a Selic no fim de 2025 seguiu em 14,75% -- o que indica a perspectiva de manutenção da taxa no atual patamar até o próximo ano. Já a projeção de inflação para 2025 cedeu de 5,50% para 5,46%.

No exterior, às 16h38 o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 4 pontos-base, a 4,458%.

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