Banco Mundial reduz previsão de crescimento global devido a tensões comerciais

Por Andrea Shalal

WASHINGTON (Reuters) - O Banco Mundial reduziu nesta terça-feira sua previsão de crescimento global para 2025 em 0,4 ponto percentual, para 2,3%, afirmando que as tarifas mais altas e o aumento da incerteza representam um "obstáculo significativo" para quase todas as economias.

Em seu relatório semestral Perspectivas Econômicas Globais, o banco reduziu suas previsões para quase 70% de todas as economias - incluindo Estados Unidos, China e Europa, bem como seis regiões de mercados emergentes - em relação aos níveis projetados há apenas seis meses, antes da posse do presidente dos EUA, Donald Trump.

Trump afetou o comércio global com uma série de aumentos de tarifas e desencadeou retaliações da China e de outros países.

O Banco Mundial é o mais recente órgão a cortar sua previsão de crescimento como resultado das políticas comerciais erráticas de Trump, embora as autoridades dos EUA insistam que as consequências negativas serão compensadas por um aumento nos investimentos e por cortes de impostos ainda a serem aprovados.

O banco não chegou a prever uma recessão, mas disse que o crescimento econômico global este ano será o mais fraco fora de uma recessão desde 2008. Até 2027, o crescimento do Produto Interno Bruto global deve ficar em média em apenas 2,5%, o ritmo mais lento de qualquer década desde os anos 1960.

O relatório prevê que o comércio global crescerá 1,8% em 2025, abaixo dos 3,4% registrados em 2024 e cerca de um terço do nível de 5,9% nos anos 2000. A previsão baseia-se nas tarifas em vigor no final de maio, incluindo uma tarifa de 10% dos EUA sobre as importações da maioria dos países. Ela exclui os aumentos anunciados por Trump em abril e depois adiados até 9 de julho para permitir negociações.

O banco disse que a inflação global deve chegar a 2,9% em 2025, permanecendo acima dos níveis pré-Covid devido aos aumentos de tarifas e aos mercados de trabalho apertados.

"Os riscos para a perspectiva global permanecem decididamente inclinados para o lado negativo", escreveu o banco. Segundo o banco, seus modelos mostraram que um novo aumento de 10 pontos percentuais nas tarifas médias dos EUA, além da taxa de 10% já implementada, e uma retaliação proporcional por parte de outros países poderiam reduzir em mais 0,5 ponto percentual as perspectivas para 2025.

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Essa escalada nas barreiras comerciais resultaria "em um colapso do comércio global no segundo semestre deste ano (...) acompanhado por um colapso generalizado da confiança, aumento da incerteza e turbulência nos mercados financeiros", disse o relatório.

No entanto, ele disse que o risco de uma recessão global é inferior a 10%.

"NEBLINA"

"A incerteza continua sendo um forte obstáculo, como a neblina em uma pista de decolagem. Ela desacelera os investimentos e afeta as perspectivas", disse Ayhan Kose, economista-chefe adjunto do Banco Mundial, em uma entrevista à Reuters.

No entanto, ele disse que há sinais de maior diálogo sobre o comércio que podem ajudar a dissipar a incerteza, e que as cadeias de oferta estão se adaptando a um novo mapa do comércio global, e não entrando em colapso. O crescimento do comércio global pode ter uma recuperação modesta em 2026 para 2,4%, e os desenvolvimentos em inteligência artificial também podem impulsionar o crescimento, disse ele.

"Acreditamos que, em algum momento, a incerteza diminuirá", disse ele. "Quando o tipo de neblina que temos se dissipar, o motor do comércio poderá voltar a funcionar, mas em um ritmo mais lento."

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Kose disse que, embora as coisas possam piorar, o comércio continua e a China, a Índia e outros países ainda estão apresentando um crescimento robusto. Muitos países também estão discutindo novas parcerias comerciais que podem render dividendos mais tarde, disse ele.

CORTES

O Banco Mundial afirmou que a perspectiva global se "deteriorou substancialmente" desde janeiro, principalmente devido às economias avançadas, que agora registram crescimento de apenas 1,2%, queda de meio ponto, após expansão de 1,7% em 2024.

A previsão para os EUA foi reduzida em 0,9 ponto percentual em relação a janeiro, para 1,4%, e a perspectiva para 2026 foi cortada em 0,4 ponto percentual, para 1,6%. O aumento das barreiras comerciais, a "incerteza recorde" e um aumento na volatilidade dos mercados financeiros devem pesar sobre o consumo privado, o comércio e o investimento, segundo o relatório.

As estimativas de crescimento na zona do euro foram cortadas em 0,3 ponto percentual, para 0,7%, e no Japão em 0,5 ponto percentual, para 0,7%.

Segundo o relatório, os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento deverão crescer 3,8% em 2025, contra 4,1% na previsão de janeiro.

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O Banco Mundial deixou sua previsão para a China inalterada em 4,5%, dizendo que Pequim ainda tem espaço monetário e fiscal para sustentar sua economia e estimular o crescimento.

(Reportagem de Andrea Shalal)

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