Ativos precificam nova alta da Selic esta semana, embora maioria dos economistas veja manutenção

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - À espera do Copom, o mercado financeiro precifica, ainda que por margens estreitas, chances majoritárias de o Banco Central anunciar um aumento adicional de 25 pontos-base da Selic na próxima quarta-feira, de 14,75% para 15,00% ao ano, o que contrasta com as previsões predominantes dos economistas em pesquisa da Reuters e no relatório Focus.

Na última sexta-feira -- atualização mais recente -- a precificação das opções de Copom negociadas na B3 indicava 56,50% de chances de alta de 25 pontos-base da Selic, contra 42,00% de probabilidade de manutenção. Embora estes percentuais estejam mais próximos nas últimas sessões, sugerindo uma quase divisão sobre o que o Comitê de Política Monetária do BC fará, eles expressam uma mudança considerável das apostas ocorrida desde o fim do mês passado.

Em 27 de maio, por exemplo, a precificação das opções de Copom era de apenas 14,50% de chances de alta de 25 pontos-base e 83,00% de probabilidade de manutenção da Selic.

Nas sessões mais recentes os investidores passaram a colocar mais dinheiro na aposta de alta de 25 pontos-base da Selic.

No mercado de DIs (Depósitos Interfinanceiros), a curva precificava nesta tarde de segunda-feira, conforme cálculos do Banco Bmg, cerca de 60% de chances de a Selic subir 25 pontos-base, contra 40% de chances de manutenção.

Isso de certo modo contrasta com as projeções dos economistas. Pesquisa da Reuters publicada na última sexta-feira mostrou que 27 de um total de 39 economistas consultados esperavam a manutenção da Selic.

No relatório Focus do BC, publicado nesta segunda-feira, a mediana das projeções dos economistas também indica manutenção da Selic na quarta-feira, considerando um universo de 143 respondentes.

Discrepâncias entre o que o mercado precifica nos ativos e o que os economistas projetam são comuns, ainda mais em cenários de incerteza, como o atual. E também é comum que, no universo das projeções dos economistas, algumas casas saiam na frente ao reavaliarem o cenário do Copom, se reaproximando da precificação de mercado.

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Na sexta-feira, o BTG Pactual revisou sua projeção para o Copom, passando a prever uma elevação adicional de 25 pontos-base da Selic, para 15,00% ao ano. O Goldman Sachs também prevê que o Copom deve elevar a taxa em 25 pontos-base. Outras casas, como o Inter e o Bmg, seguem projetando manutenção.

O fato é que a decisão do Copom na quarta-feira é uma das mais indefinidas dos últimos anos, na visão de analistas e investidores.

"É uma das reuniões em que o mercado chega mais dividido, e essa divisão é mais recente. Saíram alguns dados econômicos e aparentemente houve uma mudança de discurso pelo Banco Central entre as reuniões do Copom, e as pessoas passaram a considerar a possibilidade de um aumento", afirmou à Reuters Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil WM.

"Isso se observa claramente, com o mercado aumentando a probabilidade de 25 pontos-base", acrescentou.

Um dos marcos da mudança de chave entre os investidores foi a participação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento promovido pelo Centro de Debates de Políticas Públicas, em São Paulo, no dia 2 de junho.

Nele, Galípolo defendeu, como se espera, a flexibilidade do Copom para decidir sobre a Selic, mas pontuou que a instituição ainda está discutindo o ciclo de alta, e não quando começará o ciclo de cortes. Na visão de parte do mercado, isso deu força à possibilidade de uma elevação adicional da taxa básica.

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De lá para cá, também houve um aumento das preocupações com as contas públicas, em meio às dificuldades do governo Lula em negociar com o Congresso medidas para cumprir a meta fiscal.

Do lado de quem aposta na manutenção da Selic, há a percepção de que o BC pode optar por manter a taxa agora e adiar para mais à frente, já em 2026, um eventual início de ciclo de cortes, a depender do cenário. Além disso, alguns dos números da economia já estariam favorecendo a manutenção da Selic.

"Os dados de atividade continuam indicando desaceleração da economia... Juntamente com o dado mais ameno do IPCA de maio e o cenário de dólar mais fraco, o BC pode pausar já na próxima reunião, dando o ciclo de aperto como encerrado", disse a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, em análise a clientes.

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