BC diz que boa parte do impacto da alta "firme" na Selic está por vir, motivando pausa no ciclo de aperto

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central afirmou que elevou a taxa Selic em mais 0,25 ponto percentual por conta da resiliência da atividade, ponderando que ainda está por vir grande parte do efeito do aperto monetário feito até agora, o que motivou a indicação de que o ciclo de alta será interrompido, mostrou nesta terça-feira a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

No documento, que citou os debates recentes sobre política fiscal, o BC enfatizou que a construção da confiança necessária para definir o patamar apropriado dos juros passa por assegurar que os canais de política monetária estejam desobstruídos e sem elementos mitigadores.

"O Comitê optou pela elevação de 0,25 ponto percentual, avaliando que a economia ainda apresenta resiliência, o que dificulta a convergência da inflação à meta e requer maior aperto monetário", disse.

"Por outro lado, ressaltou-se que o ciclo até então empreendido foi particularmente rápido e bastante firme, reforçando o entendimento de que, dadas as defasagens inerentes aos efeitos da política monetária, grande parte dos impactos da taxa mais contracionista ainda está por vir. Em função disso, o Comitê comunicou que antecipa uma interrupção no ciclo de elevação de juros."

Na semana passada, o BC decidiu elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, a 15,00% ao ano, e destacou que antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros, considerando que a taxa deve permanecer inalterada por "período bastante prolongado".

Na ata, a autarquia afirmou que após a interrupção do ciclo de alta, prevista para a próxima reunião, o Copom irá observar se o patamar dos juros é apropriado para levar a inflação à meta de 3%.

"Ressaltou-se que, determinada a taxa apropriada de juros, ela deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado devido às expectativas desancoradas", afirmou.

Após essa avaliação, o BC enfatizou a mensagem da semana passada de que seguirá vigilante e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado.

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Para a autarquia, a economia no Brasil apresenta sinais mistos, com "certa" moderação do crescimento e expectativa de que os efeitos da alta nos juros sobre a atividade se aprofunde nos próximos trimestres, arrefecendo também o mercado de trabalho.

Iniciado em setembro do ano passado, o ciclo de aperto acrescentou 4,5 pontos percentuais à Selic, levando a taxa básica de juros ao maior nível em quase 20 anos.

Em relação ao comportamento dos preços no país, o BC disse que o cenário de inflação de curto prazo segue adverso, mas apresentou surpresas baixistas no período recente em relação ao que os analistas previam.

Apesar dessa observação, o Copom afirmou que os núcleos de inflação --que excluem itens mais voláteis-- seguem em patamar acima do compatível com a meta, o que demanda juros contracionistas por um período bastante prolongado.

"A ata se mostrou mais focada em evitar que o mercado passe a precificar cortes de juros do que propriamente em sugerir a possibilidade de novas altas. Assim, avaliamos que a sinalização divulgada hoje é consistente com nosso cenário de Selic mantida em 15,00% até (pelo menos) o segundo trimestre de 2026", disse o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale.

FISCAL

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Na ata, o BC ainda avaliou que o debate feito entre governo e Congresso Nacional sobre reformas fiscais estruturais e redução de incentivos tributários podem impactar os juros no país, argumentando que segue acompanhando com atenção o tema.

“O debate mais recente, com ênfase na dimensão estrutural do orçamento fiscal e na redução ao longo do tempo de gastos tributários, tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e de ter impactos sobre o prêmio da curva de juros”, disse.

O governo apresentou uma série de medidas de elevação tributária, além de algumas ações de contenção de despesas após recuar de parte do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e prometeu enviar ao Legislativo um projeto para cortar gastos tributários. A equipe econômica ainda afirmou que deve debater com parlamentares possíveis medidas de corte de gastos.

Para a autarquia, a política fiscal tem um impacto de curto prazo, majoritariamente por meio de estímulo à demanda agregada, além de um efeito de médio prazo, que impacta a curva de juros.

Sobre o cenário externo, a autoridade monetária afirmou que houve uma melhora no ambiente com reversão parcial de tarifas de importação pelos Estados Unidos, mas ponderou que ainda há incerteza e volatilidade, citando ainda dúvidas sobre a política fiscal do governo Donald Trump e o conflito no Oriente Médio.

Ao afirmar que as condições financeiras globais serão particularmente importantes, o BC apontou ter notado "um padrão de correlações de ativos, incluindo moedas, diferente do usual" em momento de choques de aversão a risco.

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