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Bolsonaro quer mostrar Brasil que avança, mas economistas temem aumento do buraco fiscal

13.set.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters
13.set.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em cerimônia no Palácio do Planalto Imagem: Adriano Machado/Reuters

Raquel Miura

Da RFI em Brasília

21/09/2021 06h41Atualizada em 21/09/2021 17h19

Enquanto no discurso da Assembleia Geral da ONU hoje o presidente tentará mostrar que sob sua gestão o Brasil teve avanços, mercado financeiro não acredita em medidas liberais de Paulo Guedes e teme rombo fiscal ainda maior.

Se Bolsonaro tenta vender a ideia de um país que avançou em várias áreas em sua gestão, a avaliação de economistas é de que é justamente o presidente brasileiro o principal fator de instabilidade hoje, agravando o cenário de incertezas na área econômica. A sensação do mercado, que foi avalista do governo até pouco tempo, é de apatia e receio, porque não aposta mais que medidas liberais prometidas sairão do papel, diante de um ministro da Economia cada vez mais desacreditado, e teme que, no tudo ou nada de Bolsonaro para reverter índices tão baixos de aprovação com vistas a 2022, o governo aumente ainda mais o buraco fiscal.

"Investidores brasileiros e internacionais cobram hoje um chamado custo Bolsonaro, ou seja, o grau de confusão que o próprio presidente da República causa a si mesmo e ao governo. Apesar de formalmente ele prestigiar o ministro Paulo Guedes, o mercado já percebeu que, a cada momento que se aproxima do fim do mandato, e sendo Bolsonaro candidato à reeleição e precisando melhorar os índices de pesquisa, dado que a sua atuação na pandemia o levou a um índice de desaprovação recorde, Paulo Guedes não conseguirá realizar as reformas com as quais ele havia se comprometido desde o começo", avalia o economista Gilberto Braga, professor do IBMEC, o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais.

Para o analista, o mercado financeiro vê riscos reais de o governo avançar em soluções contábeis criativas, furando o teto de gastos, para atender demandas sociais e, assim, Bolsonaro ter chances na disputa pela reeleição. Braga também disse que "o mercado viu com muito maus olhos o encaminhamento da reforma tributária, sobretudo o aspecto que trata da tributação dos dividendos das empresas, que é o lucro que os acionistas e investidores colocam no bolso. E o mercado também achou, de um certo sentido, uma traição a elevação da alíquota do IOF, imposto sobre operações financeiras".

Instabilidade política eleva risco país

Na contaminação da economia pelo debate político, o risco Brasil é elevado pelo discurso de contestação do sistema eleitoral e pelos ataques aos outros poderes, prejudicando a economia do país. "Os investidores têm o mapa mundi à sua frente na hora de decidir onde aplicar seu dinheiro, têm o mundo inteiro. Ele vai pesar riscos e ganhos na sua escolha", disse Virene Matesco, doutora em economia e professora da FGV. "O investidor põe tudo na balança. Agora, riscos institucionais, ataques ao modelo eleitoral são um risco adicional, o custo final desse investimento aumenta muito. E no momento os investidores não demonstram confiança no Brasil."

Matesco não aposta numa guinada na condução da economia a ponto de minimizar resistências e conseguir atrair investimentos. "Acho que vamos em compasso de espera nesse pouco mais de um ano para terminar o mandato. Não acredito que haverá uma mudança de rumo da economia capaz de tornar o país atrativo".

Matesco cita ainda a situação ambiental como um dificultador para os negócios brasileiros lá fora, injustificável, na visão dela, para um país que tem "vários ativos nessa área, como a Floresta Amazônica, nossos rios de água doce". O que poderia render slogans a nosso favor, um selo verde para atrair investidores e compradores, vira um pesado ônus. "O mundo é verde. Essa pauta entrou para ficar e cada vez mais vai exigir dos países comprometimento com a área ambiental. E não temos uma polícia nacional de meio ambiente. Vamos ser penalizados, cada vez mais, por ignorar e não proteger nosso meio ambiente", disse a economista.

Gilberto Braga concorda e acha que daqui para o ano que vem interesses econômicos do país ficarão em segundo plano diante do foco eleitoral do governo.

"Bolsonaro aposta que, no frigir dos ovos, indo para o segundo turno, uma polarização entre esquerda e direita fiquem ainda pendentes para o seu lado os votos hoje de centro, que de alguma maneira rejeitam ambas as opções na base do 'eu sou o menos pior'. Apostando que muitos dirão que é melhor colocar alguém de direita do que alguém de esquerda. Então a agenda econômica fica completamente comprometida. A agenda internacional não é foco prioritário do governo Bolsonaro em seus últimos momentos. E o que Bolsonaro deve fazer cada vez mais para se manter nos holofotes, fato que seria desnecessário por já ser presidente da república, é gerar mais polêmicas", diz Braga.