Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Lula: ?Estou vivo e sou mais honesto do que vocês'

04/03/2016 22h46

Em discurso a uma plateia de militantes de esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na noite desta sexta-feira que "está vivo" e que é mais honesto do que aqueles que tentam criminalizá-lo. Lula comparou a condução coercitiva a que foi submetido nesta manhã a um sequestro, disse que se sentiu como se tivesse sido preso e provocou o juiz responsável pela Operação Lava-Jato, Sergio Moro, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

"Pode pegar o procurador-geral, o doutor Moro, o delegado e juntar todos eles. Se eles forem um real mais honestos do que eu, eu desisto da vida pública", afirmou. Antes, o petista citou Jesus Cristo e disse que Ele sofreu mais e "só foi reconhecido como herói depois de mais de cem anos". "Se esse for o preço, vamos pagá-lo", disse.

Mais de cinco mil militantes do PT, PCdoB e de movimentos populares como UNE, CUT e MST lotaram a quadra dos bancários, no centro de São Paulo, em um ato para prestar solidariedade a Lula. O cenário foi bem diferente dos atos realizados pelo PT e por movimentos populares no local em 2015, que mesmo com a presença do ex-presidente estavam esvaziados.

Ao discursar por 1h20, Lula ficou a maior parte do tempo com os olhos marejados e teve que enxugar as lágrimas por quatro vezes, especialmente quando lembrava de ações de seu governo no combate à desigualdade.

O ex-presidente classificou como "perversidade" a condução coercitiva e disse que foi um "desrespeito a quem dedicou a vida ao país". O petista lembrou que prestou três depoimentos neste ano - dois à Polícia Federal e um ao Ministério Público - e que teria dado um novo depoimento se tivesse sido solicitado.

"O que eu vi hoje foi um show de pirotecnia", afirmou.

O ex-presidente voltou a ironizar as denúncias de suposto favorecimento irregular envolvendo um apartamento tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia e negou ser dono dos imóveis. "Só tem um jeito deles serem meus. Alguém comprar e me dar. Quero que a Globo ou o Ministério Público comprem e me deem", afirmou, em uma das várias críticas feitas ao grupo Globo e ao MP. Para o petista, os meios de comunicação querem apagar o seu legado.

Lula reclamou também das perguntas que foram feitas durante o depoimento desta sexta-feira e disse que já havia respondido a muitos dos questionamentos anteriormente.

O petista animou a plateia ao dizer que "cutucaram o cão com vara curta" e foi interrompido por gritos de "Brasil, urgente, Lula presidente" . "Se quiserem me derrotar vão ter que me enfrentar nas ruas", afirmou. O petista disse ainda que sobreviveu à fome e que, por isso, não desistirá nunca.

O ex-presidente ironizou a convocação para o depoimento de hoje como "banal, imbecil" e uma "ofensa", que acabou alimentando seu desejo de continuar na vida pública. Na avaliação de Lula, foi uma provocação de seus opositores que querem falar que "eles existem". Como resposta, o petista afirmou: "Eu existo e vou resistir".

O ex-presidente reclamou ainda que os investigadores pegaram o celular de sua esposa, Marisa Leticia, e que ela mal sabe usar o aparelho. Para Lula, hoje foi o dia da "indignação".

Ao sinalizar sua disposição em disputar a Presidência novamente em 2018, Lula afirmou que é um homem "de 70 anos, com tesão de um jovem de 30 e corpo de atleta de 20". O ex-presidente reforçou que pretende viajar o país para defender seu legado e animar a militância.

Apoiadores

Antes de Lula discursar, dirigentes partidários e líderes de movimentos sociais saíram em defesa do petista.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o Estado de direito foi violado e que a militância vai "pisar na cabeça" daqueles que tentam ameaçar a democracia.

Na mesma linha, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse que a condução coercitiva foi algo "muito sério e grave" e um "golpe no Estado democrático de direito". Haddad disse que "da próxima vez" Lula será escoltado pelo povo.

O ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, disse que os militantes foram tomados por um sentimento de "perplexidade, que logo se transformou em indignação" e que a ação judicial contra Lula foi um ato "brutal, de violência e de arbítrio". O ministro afirmou ainda que há uma "sórdida, cruel e permanente" campanha de criminalização de Lula. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, também estava no ato.

Líder do MST, Gilmar Mauro disse que é preciso "disputar corações e mentes nas ruas". Já a presidente da UNE, Carina Vitral, atacou a imprensa e disse que as denúncias contra Lula fazem parte de uma "farsa midiática".

À tarde, depois do depoimento, Lula reuniu-se no diretório nacional do PT em São Paulo com dirigentes petistas, do PCdoB e lideranças de movimentos sociais e sindicais. O ex-presidente fez declaração à imprensa em linha semelhante ao que falou aos militantes, à noite.

Movimentos populares decidiram antecipar uma grande manifestação de apoio a Lula do dia 31 para o dia 18. Também farão atos nos dias 8 e 31 de março.