IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Dólar cai em dia propenso a risco no exterior

20/05/2016 13h45

A sexta-feira é de recuperação de ativos de risco no mundo, após vendas generalizadas provocadas por aumento da expectativa de alta de juros nos Estados Unidos.

Após a ata do Federal Reserve (Fed) divulgada na quarta-feira, os futuros dos "fed funds" sinalizam hoje probabilidade de 30% de um aumento da taxa de referência na próxima reunião, nos dias 14 e 15 de junho. Antes da ata, essa chance se situava abaixo da linha de dois dígitos, de acordo com dados da CME. A ata foi reforçada por novos comentários "hawkish" (mais propensos ao aperto monetário), ontem, de autoridades como o presidente do Fed de Nova York, William Dudley, e o presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker.

O aumento da expectativa de que os EUA estão se aproximando de um novo aumento de juros contribui para manter o Dow Jones a caminho da quarta semana consecutiva de perdas, apesar do ajuste técnico desta sexta-feira. "Os investidores permanecem algo céticos, em um cenário mundial marcado por rentabilidade muito baixa. Não estamos indo a lugar algum", diz Marino Valensise, diretor de multiativos da Baring Asset Management.

O dólar passa por correção e a desvalorização de hoje devolve a moeda para perto de R$ 3,50, nível em torno do qual tem operado recentemente. Já o Ibovespa tentou acompanhar os ganhos do exterior, mas não resiste a dúvidas internas e ainda sente a questão dos juros nos EUA, dizem analistas.

Autoridades do governo passaram a falar nos últimos dias em um déficit muito acima de R$ 100 bilhões, beirando R$ 200 bilhões. O número alarmante serviu de argumento para os mercados realizarem lucros recentes.

As taxas de juros de curto prazo chegaram a subir mais na BM&F nesta sexta-feira, mas chegam ao fim da manhã perto da estabilidade. O mercado ampliou as compras de taxa após o IPCA-15 de maio, que veio acima do esperado.
Bolsa
O Ibovespa tentou acompanhar a recuperação dos mercados de ações internacionais hoje, mas não resistiu. Às 13h34, caía 0,21%, para 50.027 pontos, pressionado por ações de mineradoras e siderúrgicas, que operavam entre os destaques de alta, viraram e passaram a cair, adicionando pressão ao índice.

Caem Vale ON (-5,10%), Bradespar PN (-4,24%), Cyrela ON (-3,09%), Vale PNA (-2,78%) e Kroton ON (-2,40%).

Números da Worldsteel divulgados hojem mostram que a produção global de aço bruto caiu 1,7% em abril, na comparação com março. O uso da capacidade instalada caiu 3,6 pontos, a 69,2%.

Para operadores, o mercado retorna ao compasso de espera por medidas efetivas do governo de Michel Temer. Continua pesando a perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos.

Gerdau permanece em alta. A Metalúrgica sobe 2,90% e a Gerdau PN ganha 2,12%. A empresa se recupera de fortes perdas na semana após notícia de que a empresa e seus executivos foram indiciados pela Polícia Federal (PF) por tentar sonegar R$ 1,5 bilhão no Brasil no esquema de corrupção Zelotes.

Além disso, a empresa anunciou hoje acordo de venda da divisão de aços especiais na Espanha para a Clerbil SL, por 155 milhões de euros.

As ações PN da Petrobras registraram manhã de alta, mas as ON já operam com ligeira queda de 0,09%. Petrobras PN subia 1,56%. As ações reagem à notícia de que o economista Pedro Parente foi anunciado para a Presidência da estatal, mas analistas voltam a afirmar que querem ver medidas concretas. Parente destacou ontem que o presidente interino, Michel Temer, garantiu-lhe que não haverá indicações políticas na petrolífera.

Além da nomeação de Parente, as ações da Petrobras se recuperam de uma sequência de perdas, afetadas pela queda do petróleo e por temores globais de alta de juros nos Estados Unidos.

Em relatório de hoje, o Credit Suisse diz que Parente tem experiência e classifica a notícia como positiva. O banco afirma que ele assumirá uma empresa que precisa encontrar o equilíbrio entre liquidez de curto prazo e valor de longo prazo, acelerar desinvestimentos e ajustar a estrutura de capital sem diluir os acionistas. O Credit Suisse pondera que, apesar de ter diversos fatores que precisam e devem ser melhorados na companhia, o valor de longo prazo vai depender principalmente de melhora nas condições macroeconômicas e do nível do petróleo.

Juros

As taxas de juros de curto prazo chegaram a subir mais na BM&F nesta sexta-feira, mas chegam ao fim da manhã perto da estabilidade. O mercado ampliou as compras de taxa após o IPCA-15 de maio, que veio não só acima do esperado como mostrou uma inflação mais espalhada.

O dado se soma a recentes leituras de preços mais altos que o imaginado, as quais aumentam as dúvidas sobre o espaço para corte de juros no curto prazo.

A inflação medida pelo IPCA-15 acelerou a 0,86% em maio, de 0,51% em abril, na maior taxa para o mês desde 1996. A leitura ficou acima da estimativa média de 23 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data (0,74%) e também do teto das projeções (0,80%).

No acumulado dos últimos 12 meses, o índice avança 9,62%, acima da taxa de 9,34% acumulada até abril. Sem o grupo alimentação, o índice de difusão do IPCA-15, que mede quão espalhada está a variação dos preços, subiu a 67,8% em maio, ante 64% em abril.

O mercado reduz hoje, na curva de juros, a probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual da Selic em junho a 10%, ante 15% ontem. No último dia 12, por exemplo, a precificação estava em 40%.

Às 13h38, o DI janeiro de 2017 subia a 13,685% ao ano, ante 13,670% no ajuste anterior.

A perspectiva de que os juros não caiam tanto no curto prazo combinada com a confiança no comprometimento da nova equipe econômica com o combate à inflação leva o mercado a estender o ajuste de baixa das taxas mais longas visto ontem, após quatro sessões de alta.

O DI janeiro de 2018 caía a 12,720%, ante 12,770% do ajuste de ontem. O DI janeiro de 2021 caía a 12,360%, contra 12,520% no ajuste da véspera.

Câmbio

O dólar passa por correção, segue o exterior e cai ante o real nesta sexta-feira, após dois dias de alta. A desvalorização de hoje devolve a moeda para perto de R$ 3,50, nível em torno do qual tem operado recentemente.

Às 13h38, o dólar comercial cai 0,88%, a R$ 3,5369. No mercado futuro, o dólar para junho cedia também 0,95%, a R$ 3,5430.

Para o Morgan Stanley, o real é a moeda emergente mais vulnerável a um achatamento da curva de Treasuries. Ainda assim, o banco se diz "bullish" (otimista) com o real, vendo que o Brasil está em direção a um cenário mais "benigno". O Morgan segue vendo menos espaço para uma "grande onda de vendas" da moeda brasileira, diante da avaliação de que o crescimento econômico pode retornar e a inflação já parece ter atingido seu pico.

Por outro lado, o banco também entende ser improvável que o real se valorize muito ante o dólar, dadas as dinâmicas da conta corrente e ao risco de contínuo desmonte pelo Banco Central do estoque de swaps cambiais tradicionais.

"Estamos cientes de que o risco político também pode emergir, embora esse não seja nosso cenário-base", acrescenta.