IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Cannes: "I, Daniel Blake", de Ken Loach, leva Palma de Ouro

22/05/2016 18h00

O humanismo do britânico Ken Loach triunfou em Cannes, com a entrega da Palma de Ouro da 69ª edição do festival francês ao drama social "I, Daniel Blake" - filme que acompanha o calvário de um carpinteiro viúvo de Newcastle que, impedido de trabalhar após ataque cardíaco, é vítima da burocracia quando pede, pela primeira vez na vida, auxílio do governo.

Esta é a segunda Palma de Loach, premiado também em 2006, com "Ventos de Liberdade".

Na cerimônia de encerramento realizada neste domingo, na Riviera Francesa, coube ao Brasil apenas uma menção especial do júri de curta-metragem, com a vitória de "A Moça Que Dançou Com o Diabo", dirigido pelo paulista João Paulo Miranda Maria.

Ainda que "Aquarius" tenha impactado a imprensa especializada, recebendo críticas positivas em veículos internacionais importantes, o drama dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho não foi lembrado pelo júri - presidido pelo cineasta australiano George Miller.

Nem mesmo Sonia Braga, que dá alma ao filme rodado em Recife, confirmou as especulações de que seria consagrada como melhor atriz. Na categoria, a premiada foi a filipina Jaclyn Jose, pela intensa performance como traficante de drogas no drama "Ma' Rosa", de Brillante Mendoza.

O canadense Xavier Dolan levou o Grande Prêmio do júri, o segundo mais importante do evento, por "Juste La Fin Du Monde", adaptação de peça de Jean-Luc Lagarce, encenada em Montreal, cidade natal do cineasta. Foi uma surpresa, já que o filme dividiu a crítica por ser mais um exercício de estilo (com belíssima fotografia de André Turpin) que um estudo sobre dinâmica familiar - a princípio, o objetivo do diretor.

Outra decisão inesperada do júri foi a de entregar o prêmio de melhor diretor ao francês Olivier Assayas, por "Personal Shopper" - estatueta que acabou dividida com romeno Cristian Mungiu, por "Bacalaureat". Este último agradou a plateia com a história do pai disposto a tudo para ver a filha deixando a Transilvânia para estudar na Inglaterra.

Já "Personal Shopper", protagonizado por Kristen Stewart, levou vaias na sessão de imprensa por apresentar uma história de vocação sobrenatural inconsistente.

O Irã conquistou duas estatuetas com o filme "The Salesman", de Asghar Farhadi.

O próprio Farhadi foi premiado com o troféu de melhor roteiro pela desconcertante história de casal de Teerã cuja vida é afetada quando um homem invade a sua residência enquanto a dona da casa toma banho. Só a ideia de que outro homem pode ter visto sua mulher nua é suficiente para deixar o marido fora de si - papel que rendeu o prêmio de melhor ator a Shahab Hosseini.

"American Honey", um frenético road movie sobre grupo de jovens sem perspectivas, garantiu à diretora inglesa Andrea Arnold o Prêmio do Júri.

Além de George Miller, integraram o júri desta edição a atriz americana Kirsten Dunst, o ator dinamarquês Mads Mikkelsen, a cantora francesa Vanessa Paradis, o cineasta francês Arnaud Desplechin, o ator americano Donald Sutherland, a atriz e cineasta italiana Valeria Golino, a produtora iraniana Katayoon Shahabi e o diretor húngaro Laszlo Nemes.

O Brasil conquistou um prêmio ontem, quando Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha, recebeu L'Oeil d'Or (Olho de Ouro), troféu entregue ao melhor documentário de todo o festival - incluindo todas as mostras.

Com "Cinema Novo", o diretor revisita o período revolucionário dos anos 60 fazendo um recorte poético com trechos de filmes e depoimentos dos expoentes do movimento, como Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues, Ruy Guerra, Leon Hirzsman, Paulo César Saraceni e Gustavo Dahl, entre outros.

O júri de melhor documentário foi formado pelo diretor italiano Gianfrancisco Rosi, a atriz belga Natacha Régnier, o diretor francês Thierry Garrel, a documentarista francesa Anne Aghion e o brasileiro Amir Labaki, diretor do Festival É Tudo Verdade e colunista do Valor.