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Juros futuros fecham em alta na BM&F, afetados por incerteza política

31/05/2016 16h50

As taxas dos contratos futuros de juros avançaram na BM&F, refletindo o aumento da incerteza política e avanço das investigações da operação Lava-Jato, um dia após a saída do ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira. O temor dos investidores é que novas denúncias envolvendo políticos da base aliada possam atrapalhar ou mesmo adiar a votação das medidas de ajuste fiscal, necessárias para conter a deterioração das contas públicas e retomar a confiança dos investidores.

A notícia de que a Política Federal indiciou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco e outras nove pessoas, no âmbito da Operação Zelotes, por crimes de tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa contribuiu para aumentar a aversão a risco no mercado local. Investidores ampliaram a cautela também diante do risco de abrangência das investigações da Operação Lava-Jato para outros setores da economia.

A investigação envolvendo executivos do Bradesco se soma à divulgação do fechamento de novos acordos de delação premiada desta vez do filho de Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, e também a do empresário Marcelo Odebrecht. "O medo do mercado é o de ter uma situação igual a do Levy [Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff] no ano passado, em que se tinha uma equipe econômica boa, mas que não conseguia aprovar as medidas, porque o Congresso atrapalhava as votações", afirma o sócio gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella.

Nesse cenário, o DI para janeiro de 2021, mais sensível a aversão a risco, subiu de 12,74% para 12,84%. O DI para janeiro de 2017 avançou de 13,63% para 13,65%.

Em relação juros futuros com prazo mais curtos, investidores também reagiram à notícia sobre o adiamento da sabatina do novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que ficou para a terça-feira que vem. Com isso, o novo presidente não deve participar da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre nos dias 7 e 8 de junho.

O atraso na aprovação da nomeação do novo presidente do BC pode, na visão de alguns analistas, atrasar um corte da taxa básica de juros, reduzindo as chances do início do afrouxamento monetário começar em julho, uma vez que não se espera que o novo presidente mude a direção da política monetária já na primeira reunião sob seu comando. "Acho que isso reforça a probabilidade de um início de corte de juros só em agosto", afirma Portella.

Para Garde Asset Management, Daniel Weeks, independentemente de quando Ilan assumir o cargo no BC, a autoridade monetária não deve cortar a taxa de juros no curto prazo dado que a inflação corrente tem desacelerado de maneira mais lenta. Além disso, reforça, há ainda incerteza sobre a política fiscal. "O BC terá de ser mais conservador e esperar para ver qual vai ser a trajetória da política fiscal", diz. A Garde prevê o início do corte de juros em outubro, com a taxa Selic devendo encerrar o ano em 13,25%.