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Ilan vê que inflação estimada de 7% este ano está se concretizando

07/07/2016 23h01

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou na noite desta quinta-feira, em entrevista gravada para o programa da jornalista Míriam Leitão na GloboNews, que as projeções de analistas de mercado de uma taxa de inflação de 7% para este ano estão se tornando cada vez mais factíveis. "A expectativa de inflação - não só do Banco Central, mas do mercado, dos analistas, da sociedade - está em torno de 7% para o ano. Uma queda de 11% para 7%. E, de fato, está ocorrendo. Mês a mês a inflação está começando a voltar. Não é certo, mas está indo na direção", sustentou Goldfajn.

O presidente do Banco Central disse que o centro da meta de inflação de 4,5% estabelecido para este ano e para 2017 é "crível" como referência por se aproximar das previsões já divulgadas pelo mercado. Ele reafirmou o compromisso do BC de perseguir a meta, ainda que a inflação este ano feche acima desse patamar. Perguntado se a taxa básica de juros poderia cair já este ano, Goldfajn evitou fazer prognóstico: "É o tipo da previsão que dá para fazer no setor privado, mas na presidência do Banco Central, não temos como antecipar."

Déficit primário

Ilan atribuiu a uma "herança difícil na política fiscal" o fato de a meta estabelecida para o déficit primário este ano estar em R$ 170 bilhões. "De um lado, estamos vendo uma herança difícil na política fiscal. Só para dar uma ideia, a meta fiscal, essa que foi para R$ 170 bilhões em 2016, R$ 140 bilhões desse total são revisão de receita e mais algumas coisas de despesa", justificou Goldfajn. Na visão dele, o teto estabelecido para os gastos da União explicita questões que não estavam claras nos últimos anos. "Ter uma medida que olhe para o futuro e diga: ?vamos parar com isso, vamos ter de decidir o que a gente faz, quanta despesa corta, onde corta e se não der para cortar, que imposto sobe', essa discussão que estamos tendo este ano e que vamos ter todos os anos, acho bem saudável."

Para o presidente do BC, será preciso levar em consideração na política monetária outros fatores além dos resultados de curto prazo. "Sob o ponto de vista da política monetária, vão importar não só os resultados no curto prazo, mas também a perspectiva de médio prazo", disse.

Câmbio

Ilan afirmou que, embora o Brasil adote um regime de câmbio flutuante, o BC não tem qualquer impeditivo para intervir no câmbio para corrigir possíveis distorções. "Em geral, nos países emergentes, os câmbios são muito mais flutuantes do que fixos. Agora, de vez em quando, por questões de falta de liquidez, ou quando algo exterior acontece, você tem algumas intervenções porque nós não temos nenhum dogma de que para ter câmbio flutuante o BC tem de ficar como o público, assistindo. Pode existir o BC corrigindo algumas distorções", disse.

Ele disse também que um dos principais objetivos da política monetária será a redução do estoque de contratos de swap cambial. Segundo Ilan, o montante desses contratos já chegou a US$ 110 bilhões, mas hoje está na casa de US$ 60 bilhões. "Acho que é saudável para a nossa economia que, ao longo do tempo, de uma forma parcimoniosa, sem ferir o câmbio flutuante, sem determinar pisos nem tetos nem direção, a gente consigareduzir este estoque ao longo do tempo", ressaltou.

Ilan disse que, embora a estabilidade da dívida pública seja um objetivo fundamental, não precisa ser necessariamente alcançada no curto prazo. Ele reconheceu que o montante da dívida deverá continuar subindo por "alguns anos". "A estabilidade da dívida é fundamental. Não precisa ter uma estabilidade imediata. Vai ser difícil estabilizar num curtíssimo prazo, mas temos de sinalizar que essa estabilidade vem num futuro não muito distante", explicou.

Perguntado se o cenário externo poderia dificultar a recuperação da economia brasileira, Goldfajn frisou que ambiente global também é desafiador, principalmente após o Reino Unido ter decidido deixar a União Europeia, o que pode diminuir o ritmo da recuperação no bloco econômico.

Consignado

O presidente do Banco Central disse que a questão dos custos bancários é crucial para baixar os juros no Brasil. Ilan afirmou que é preciso buscar a redução dos custos nas medidas do dia a dia e citou os recentes problemas envolvendo fraudes na concessão dos empréstimos consignados como um exemplo.

Segundo ele, a modalidade do consignado tem uma garantia real que faz com que os custos do empréstimo sejam baixos, que é o salário do tomador. Com os problemas de insolvência nos Estados brasileiros e o calote dado nos salários dos funcionários públicos, a segurança é reduzida para o emprestador, o que pode elevar os juros mais adiante. Ele afirmou, no entanto, que são casos pontuais, e que o consignado não deve ter mudanças significativas ao menos por enquanto.

"É preciso dar segurança ao sistema. Com isso, o custo da intervenção cai muito, ajuda a reduzir os custos do banco e assim os juros caem", afirmou.

Ilan também abordou a questão do perigo que a operação Lava-Jato está trazendo para a solvência de várias grandes empresas, o que também ajuda a elevar a exposição dos bancos credores dessas companhias ao risco de calote.

Segundo Ilan, o banco central está "de olho nos resultados da Lava-Jato", mas que a situação está dentro do controle. "Estamos monitorando para manter a situação atual do sistema bancário, que é líquido, sólido e capitalizado", afirmou.