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Para Ilan, é importante a redução de incertezas sobre ajustes

22/09/2016 22h45

A flexibilização da política monetária dependerá de fatores que vão dar ao país mais conforto e que aumentem a confiança para atingir a meta de inflação, segundo Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central (BC). Segundo ele, é importante que ocorra redução da incerteza sobre os ajustes necessários da economia, inclusive medidas de ajuste fiscal e seus impactos na inflação. O Copom, disse ele, analisará as combinações dos fatores. As avaliações, disse Ilan, são subjetivas, mas sempre calcadas em evidências sólidas.

As declarações foram dadas em evento de premiação de empresas da revista "IstoÉ Dinheiro", na noite desta quinta-feira, em São Paulo.

Segundo o presidente do BC, a política monetária está sendo ampliada com a prudência que o momento requer. "Agindo de maneira prudente, temos resultados. A inflação estimada para 2018 em diante está dentro da meta, em 4,5%." Ilan também destacou que os prêmios de risco para alguns créditos estão menores e que houve queda significativa dos juros longos da economia. "Parte da melhora é fruto do trabalho do BC."

Ilan disse que o mundo vive diante de um interregno benigno para economias emergentes e oferece condições favoráveis de financiamento e alguma oportunidade de recuperação da economia.

"Não é provável que esse ambiente favorável dure para sempre", alertou. Segundo ele, o crescimento das economias avançadas deve ganhar atenção, o que deve levar a condições de normalização para a economia global. "Isso deve pôr fim a esse período benigno de fuga dos juros zero nos países avançados." Isso, ressaltou, não deve ser tomado como má noticia, já que é consequência direta da recuperação econômica. "O processo deve ter alguma volatilidade, mas significa que o crescimento deve vir."

Os emergentes, destacou o presidente do BC, devem aproveitar a janela de oportunidade para reformar e ajustar suas economias. No Brasil, lembrou ele, tivemos seis trimestres consecutivos de retração econômica e agora é possível dizer que a economia está se estabilizando. "Cresce a esperança de recuperação gradual para frente", disse. O PIB do setor industrial, salientou, que vinha caindo por cinco trimestres, teve seu primeiro trimestre positivo, os indicadores de confiança, lembrou, estão subindo há alguns meses. A demanda interna, disse, depende da disposição de investir e consumir. O setor externo, destacou, tem contribuído positivamente e deve continuar, talvez em ímpeto menor.

O presidente do BC ressaltou que o Brasil vive ainda desafios relevantes, como a continuidade do aumento do desemprego e da perda de rendimento real, embora em ritmo menor que no passado recente. "A retomada da confiança é elemento crucial para reforma da economia. Para isso é preciso oferecer perspectivas de crescimento sustentando além de inflação baixa. Temos de fortalecer o arcabouço de política econômica exitoso no passado", disse ele, citando o tripé macroeconômico do controle fiscal, controle da inflação e regime de câmbio flutuante.

"O tripé é fundamental para resgatar a confiança que levará a crescimento", disse Ilan. Segundo ele, são imperativas as ações voltadas à reestruturação das contas do setor público. "Temos a reforma do teto dos gastos e a reforma da previdência, que são ações fundamentais para a retomada da confiança."

Há outras reformas que não podemos esquecer, disse ele, e que aumentam a produtividade. O setor privado tem feito, destacou ele, seu papel com esforços para melhorar custos de produção e que vão dar resultados no futuro e através da confiança no presente. "O governo conta com a participação do setor privado nos investimentos de infraestrutura, que reduz custo e riscos das outras atividades e aumento de potencial de crescimento e longo prazo da economia."

A produtividade, defendeu Ilan, eleva o crescimento e baixa a inflação de forma sustentada. É fundamental, salientou, criar condições para crescimento sustentando. "O Banco Central também contribuirá para isso. A melhor forma de fazer isso é pelo controle da inflação", disse. A inflação baixa, declarou é um ganho da sociedade, que não aceitará inflação alta. "Isso preserva o poder de compra e eleva a ajudar a confiança. Permite o alongamento dos horizontes. " Com confiança, indivíduos e firmas, declarou, voltam a assumir riscos, fator necessário para elevar consumo e investimento e para a retomada do crescimento.

Quando combate inflação alta, o Banco Central (BC) atua em prol da recuperação da atividade econômica, declarou. "O BC é parte da solução do crescimento. Permitir inflação mais alta não contribuirá para o crescimento sustentável. O passado reiteradamente nos ensinou o limite de políticas voluntaristas."

Ele salientou o firme compromisso do Copom com o controle da inflação "em todo o horizonte relevante para a política monetária". Esse horizonte, disse ele, inclui as metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional para os anos calendários, inclusive a convergência para a meta de 4,5% em 2017.

"O horizonte relevante das ações de política monetária, por sua vez, não é estático. Ele se desloca continuamente com o passar do tempo. Dentro dessa estratégia consistente, à medida que avançam os meses, as ações de política monetária passam a dar mais importância, de maneira gradual, para períodos igualmente à frente."

O respeito ao regime de câmbio flutuante não impede que o BC, quando estiverem presentes as condições adequadas, use com parcimônia e de forma previsível as ferramentas cambiais de que dispõe, afirmou.

Um exemplo claro dessa atuação, disse ele, é a redução gradual da posição em swaps cambiais que tem mitigado a volatilidade cambial sem alterar a tendência do mercado de câmbio. "Todavia, nas condições atuais, o espaço para essa atuação tem diminuído em função da proximidade da normalização das condições monetárias nos Estados Unidos", disse ele. "Precisamos aproveitar a janela de oportunidade proporcionada pelo interregno benigno no cenário global e fazer os ajustes necessários", concluiu.

Leia aqui a íntegra do discurso de Ilan.