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À espera de Trump, dólar toma fôlego e bolsa se mostra instável

11/01/2017 13h30

O dólar virou e passou a subir frente ao real nesta quarta-feira, replicando o movimento da moeda no exterior, que acelerou a alta ante divisas fortes e emergentes em meio à ansiedade antes da coletiva do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. A entrevista está marcada para as 14h (horário de Brasília).

A tomada de fôlego da moeda depois da queda de mais cedo ocorre em meio a um firme giro de negócios. Em quatro horas de pregão, o mercado já transacionou 178.235 contratos, 63% de todo o volume da véspera (178.235).

Às 13h12, dólar comercial subia 0,75%, a R$ 3,2217. Moedas emergentes como um todo operam nas mínimas em dez meses, com a lira turca e o peso mexicano renovando mínimas recordes frente ao dólar.

No mercado futuro, o dólar para fevereiro avançava 0,70%, a R$ 3,236.

O mercado espera que Trump dê detalhes sobre seus planos econômicos. Caso sinalize uma postura mais protecionista, investidores podem intensificar a busca por ativos menos arriscados, golpeando mercados emergentes.

Esse clima de incerteza com o que virá a ser a política econômica americana sob liderança de Trump, por ora, minimiza o debate sobre se o Banco Central (BC) poderá voltar a comprar dólar no mercado futuro via swaps cambiais reversos. Essa discussão ganhou força nos últimos dias conforme o real bateu máximas em dois meses ante o dólar, descolando de alguns de seus pares emergentes.

Contudo, uma surpresa com um discurso menos incisivo de Trump pode levar a um enfraquecimento global do dólar, devolvendo o real à trajetória de alta e, portanto, renovando o debate sobre a volta do BC ao mercado de câmbio.

Boa parte da alta do real nos últimos dias foi atribuída a expectativas de ingressos de recursos, sobretudo via captações externas e operações de aquisições. Números do Banco Central, porém, indicam que as entradas ainda não foram suficientes para conter a saída de capital.

O fluxo cambial ficou negativo em US$ 1,054 bilhão na primeira semana de 2017, puxado por déficit de US$ 966 milhões na conta financeira - onde entram recursos vindos de captações, fusões e aquisições.

Juros

As taxas de juros dos contratos mais líquidos na BM&F se mantêm em alta nesta quarta-feira, sustentadas pelo fortalecimento do dólar.

O volume de negócios é firme. Em quatro horas de pregão, 606.900 contratos já haviam sido transacionados, mais da metade de todo o giro da véspera (1.043.776).

O viés de alta é evidente também nas taxas mais curtas, que inicialmente operaram em baixa na esteira do IPCA menor que o esperado. Passada a reação, os mercados se concentraram na abertura do índice, que trouxe inflação mais disseminada, e priorizaram a avaliação de que o dado não agrega elementos suficientes para que o Banco Central assuma uma postura mais moderada, especialmente em um momento de incertezas externas.

A depreciação da taxa de câmbio em um ambiente global avesso a risco por causa das sinalizações de Trump poderia funcionar como mais um elemento a respaldar atitude mais conservadora do BC, que optaria assim por uma redução de 0,50 ponto percentual da Selic.

Pesquisa Valor mostra que, de 38 economistas, 33 esperam corte da Selic em 0,50 ponto em janeiro, de 13,75% ao ano para 13,25%. Cinco projetam 0,75 ponto de baixa, o que levaria a Selic a 13,00%.

Às 13h15, o DI janeiro de 2018, termômetro das apostas para a política monetária ao longo de 2017, tinha taxa de 11,350%, em alta contra o patamar de 11,330% do ajuste anterior. No piso do dia, foi a 11,310%.

Entre os contratos mais negociados, o DI janeiro de 2019 ia a 10,900%, ante 10,820% no último ajuste. E o DI janeiro de 2021 saltava a 11,230%, comparado a 11,100% no ajuste da véspera.

Bolsa

O Ibovespa opera em queda de 0,65%, aos 61.729 pontos, revertendo o movimento de alta verificado pela manhã. Segundo operadores, o índice local teve performance melhor que a das bolsas da Europa e dos EUA neste começo de ano, em razão da alta das commodities e das expectativas de queda de juros. A alta até ontem é de 3,16%.

A cautela está ligada à expectativa para a entrevista coletiva deTrump.

O Ibovespa atingiu máxima de +0,87%, mas passou a diminuir o ímpeto. O tom adotado por Trump vai definir o humor dos mercados. Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, diz que o mercado "inicia hoje um novo relacionamento" com o presidente. A entrevista será importante para que os analistas tracem suas projeções. Segundo ele, o Ibovespa também se retrai numa devolução de lucros, já que sobe neste ano com ações de commodities e de papéis que se beneficiam da queda dos juros no país.

As ações PNA da Usiminas lideram as perdas do Ibovespa, com queda de 4,20%, após os sócios da companhia na Mineração Usiminas (Musa) reprovarem a redução de capital da mineradora em R$ 1 bilhão. Os papéis são seguidos por ações de segmentos variados, como CCR (-3,77%), Lojas Americanas PN (-3,03%) e BB Seguridade (-2,84%).

Do outro lado, são destaque de alta Braskem (1,55%), Qualicorp (1,25%) e Fibria (1,05%). As ações da Braskem reagem à notícia de que a empresa fechou um acordo para venda da distribuidora de produtos químicos e petroquímicos quantiQ para a GTM Holdings, empresa controlada pela gestora de fundos de private equity Advent International, por R$ 550 milhões. Desse valor, R$ 450 milhões serão pagos à vista e o restante, em até 12 meses.