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MPF: Suborno a ex-gerente da Petrobras mostra ação da Odebrecht

28/03/2017 17h19

Preso preventivamente nesta terça-feira em Boa Vista (RR) pelo recebimento de propina de ao menos R$ 5 milhões relacionadas a contratos com a diretoria de Serviços da Petrobras, o ex-gerente da estatal Roberto Gonçalves, que sucedeu Pedro Barusco no cargo entre março de 2011 a maio de 2012, um dos principais delatores da Operação Lava-Jato, recebeu suborno no exterior viabilizado pelo departamento de propina da Odebrecht, segundo o Ministério Público Federal (MPF).


Somente uma conta bancária registrada em nome da offshore Fairbridge Finance S.A, que tem Gonçalves como beneficiário final, recebeu US$ 3 milhões de offshores ligadas ao Setor de Operações Estruturadas em 2011, de acordo com as investigações.


Em depoimento prestado ao MPF em 8 de março, um dos 77 delatores da Odebrecht, Rogério Araújo, esclareceu pagamento de propina envolvendo o contrato de R$ 1,8 bilhão firmado com a Petrobras pelo Consórcio Pipe Rack - integrado pela Odebrecht, UTC e Mendes Júnior.


Rogério Araújo explicou que o contrato contou com licitação, mas apresentava preço acima do limite de contratação da Petrobras, tendo sido autorizado pela área de Engenharia da estatal, então ocupada por Roberto Gonçalves.


"Esse preço foi apresentado acima do limite e nós não queríamos perder esse contrato e não conseguimos dar um preço, um desconto dentro das condições do edital. Então, qual seria a solução? A solução seria cancelar a concorrência e buscar uma negociação direta, e foi o que foi feito. Nisso o Gonçalves nos ajudou muito, junto com o [então] diretor [Renato] Duque", disse o delator da Odebrecht.


Araújo contou ainda que Roberto Gonçalves permitiu que o Consórcio Pipe Rack tivesse acesso a documento sigiloso da Petrobras (DIP), atuando para cancelar a concorrência e garantir que a contratação se desse diretamente, que segundo ele interessava à Odebrecht.


"Quando nós apresentamos proposta ou praticamente na fase de apresentação de proposta, eu conversei com ele [Rogério Araújo] e nós acertamos uma vantagem indevida de R$ 5 milhões, que nós acabamos pagando a ele numa conta que ele abriu no [banco] Société Genérale", disse o delator da Odebrecht.


Rogério Araújo também esclareceu que apresentou o então gerente-executivo da Petrobras ao então diretor executivo do banco, Marcelo Lambertini, que ficava no Uruguai, e uma secretária dele no Rio providenciou a documentação necessária e aprovou Roberto Gonçalves como correntista da instituição financeira.


"A gente sempre evitava trabalhar com dinheiro no Rio, então, eu sugeri a ele, eu acho melhor abrir uma conta fora e colocar esse dinheiro fora", explicou o delator.


Rogério Araújo afirmou que então passou a conta para César Rocha, então responsável financeiro da Odebrecht, que juntamente com o à época executivo da Odebrecht Márcio Faria aprovou o pagamento de R$ 5 milhões ao gerente da Petrobras.


Araújo explicou aos investigadores da Lava-Jato em Curitiba como justificou a Marcio Faria a necessidade de pagamento de propina para Roberto Gonçalves.


"Ó, Márcio, o Roberto tá assumindo agora a área de engenharia no lugar do Barusco, para a gente melhorar, pra gente ter um bom relacionamento com ele, enfim, ter uma aproximação maior, acho que seria interessante já nesse contrato a gente jogar a custo desse contrato R$ 5 milhões que ele vai nos ajudar em outras coisas".


Rogério Araújo esclareceu que a ideia era contar com o "auxílio" constante de Roberto Gonçalves, que segundo ele serviu para outras obras também.


O delator ainda explicou que, depois de aprovado o pagamento por Márcio Faria e recebida a conta de Roberto Gonçalves, ele repassou a César Rocha que deu "encaminhamento junto ao Departamento de Operações Estruturadas".


Araújo contou também que o pagamento de R$ 5 milhões a Gonçalves foi parcelado até que completasse pouco mais de US$ 2 milhões -- equivalentes a R$ 5 milhões.