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Mercado tem alívio com disputa na França, mas mantém cautela no Brasil

24/04/2017 13h42

O apetite por risco no exterior dá o tom dos principais mercados emergentes. As moedas dessas praças avançam aproximadamente 1% nesta segunda-feira (24), enquanto os investidores avaliam as chances de derrota da nacionalista de extrema-direita Marine Le Pen na disputa presidencial da França. Com isso, a cena política no Brasil fica em segundo plano, o que não significa, porém, que deixa de ser monitorada.


O diretor da Wagner Investimentos, José Faria Junior, alerta para o comportamento do Congresso nesta semana, quando ocorre a votação da reforma trabalhista. O andamento da questão pode ser termômetro para as conversas entre governo e parlamentares em torno das novas regras da Previdência.


"O governo ainda vai ceder mais para aprovar a Previdência porque a estimativa de economia de gastos com a proposta está cerca de 75% do projeto original e o mercado aceita economia mínima de 50%", diz o especialista. "É importante comentar que, quanto maior a economia, melhor serão os preços dos ativos", afirma.


Às 13h21, o dólar comercial caía 1%, cotado a R$ 3,1252, com mínima em R$ 3,1184 (-1,22%). O contrato futuro para maio, por sua vez, perdia 0,79%, a R$ 3,1295, tendo recuado até R$ 3,1230 (-1,00%).


No exterior, a principal preocupação é de que a eleição de Le Pen poderia resultar em políticas protecionistas no país e até a separação da União Europeia, o que levaria à fragmentação da zona do euro. No entanto, Le Pen ficou em segundo lugar no primeiro turno da eleição, ocorrido neste domingo (23), e agora vê o rival, o centrista Emmanuel Macron, liderar as pesquisas, com o apoio de conservadores e socialistas.


O segundo turno para escolha presidencial está previsto para o dia 7 de maio.


Juros


Os juros futuros operam em queda nesta segunda-feira, contagiados por um movimento global de propensão ao risco. Após dias de tensão com a disputa presidencial na França, ganha força a leitura de que Le Pen sairá derrotada das eleições.


O cenário mais otimista parece estar precificado nos mercados internacionais, na avaliação da equipe do economista-chefe da Julius Baer, Janwillem Acket. "Le Pen teria mais do que triplicar seus votos para vencer a disputa presidencial em 7 de maio, o que parece bastante improvável. Dado este pano de fundo, as probabilidades de Marine Le Pen vencer o segundo turno são baixas", afirma.


Às 12h45, o DI janeiro de 2021 - mais sensível à percepção de risco estrutural-cai a 9,870%, ante 9,940% no ajuste anterior. O DI janeiro de 2018 cai a 9,485%, ante 9,545% no ajuste anterior, e o DI janeiro de 2019 recua a 9,310%, ante 9,380% na mesma base de comparação.


No Brasil, a cena política e o andamento das reformas econômicas continuam a alimentar o sentimento de cautela.


"Os investidores parecem estar complacentes com o ajuste fiscal, mas uma fraca reforma da Previdência é um risco doméstico muito importante, já que o Brasil terá de revisitar o tema no futuro", aponta a equipe para mercados emergentes do Bofa, ao lembrar a importância da medida para o teto de gastos.


Os investidores estrangeiros se mostram mais preocupados com a área fiscal que os agentes locais, aponta a equipe do Bofa. "Isso é consistente com nossa preferência em receber taxas reais em vez de taxas nominais, além de aderir a papéis no final da curva", diz. Apesar dos níveis de câmbio não estarem atrativos atualmente, espera-se que os fluxos de entrada continuem no curto prazo.


O cenário é condizente ao descrito hoje pela a coordenadora de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Márcia Tapajós. Ela destacou que os estrangeiros estão montando posições em prazos mais longos, como ativos com vencimentos em janeiro de 2027, com entrada de R$ 4,4 bilhões agora em abril. Também se observa demanda por ativos com vencimento em 2023 e NTN-Bs para 2022.


Segundo Márcia, a compra de ativos mais longos demostra confiança nos papéis brasileiros, mas ele está ocorrendo em velocidade ainda inferior à redução nos papéis de curto prazo. "A expectativa é de que em algum momento esse movimento se estabiliza e se reverta", disse ela.


Bolsa


Já a bolsa brasileira sustenta uma sólida alta nesta segunda-feira com o maior otimismo dos investidores quanto à reforma da Previdência Social e a recuperação da economia. Ao mesmo tempo, acautela do final da semana passada, antes do feriado prolongado no Brasil, está dando lugar hoje ao alívio diante da perspectiva de vitória de um candidato moderado na eleição presidencial da França.



Ontem, o presidente Michel Temer se reuniu com parlamentares para reforçar a ideia de que mudanças adicionais na proposta estão descartadas. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, também disse em entrevista aoValorque as concessões em relação à proposta original chegaram ao limite. A votação do projeto está marcada para 2 de maio, e, até lá, os deputados debatem o assunto em comissão especial da Câmara.


O Ibovespa ganhava 1,23%, com 64.544 pontos, às 13h29, seguindo os principais índices da Ásia, da Europa e das Américas.


O setor financeiro tinha o melhor desempenho entre sete grupos setoriais. Banco do Brasil ON (2,93%) e Bradesco PN (2,92%) estavam entre as principais altas do horário. Os maiores destaques positivos na bolsa no início da tarde eram Hypermarcas (7,29%), Qualicorp ON (3,56%) e Natura ON (3,41%).


O colunista Lauro Jardim, do O Globo, informou que o controlador da Hypermarcastem três propostas de investidores estrangeiros pela empresa.


Já entre as maiores quedas do horário estavam Cyrela ON (-1,36%), Energias ON (-1,19%), Copel PNB (-1,02%), Telefônica PN (-1%) e Pão de Açúcar PN (-0,95%).