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Ibovespa amplia queda após discurso de Temer

18/05/2017 13h43

(Atualizada às 16h17)Em discurso, o presidente Michel Temer disse que não irá renunciar e que vai exigir a investigação plena da delações apresentadas pelo presidente da JBS, Joesley Batista. O Ibovespa acentuou a queda em que operava logo após o discurso do pemedebista. O índice caía 8,76% aos 61.622 pontos, com giro financeiro de R$ 17,6 bilhões.


De acordo com operadores, a avaliação é de que o Supremo Tribunal Federal pode não julgar a causa com celeridade, o que traria ainda mais instabilidade ao mercado financeiro. A expectativa é de que os bancos estrangeiros possam cortar a recomendação de investimentos em ações brasileiras, reduzindo os investimentos estrangeiros no mercado de ações. "Os próximos dias devem ser de muita volatilidade", diz um operador.


A crise política acirrou a venda de ações na bolsa de valores nesta quinta. Sem saber qual será o futuro de Temer no cargo e o destino das reformas estruturais, os investidores tiveram como decisão inicial vender as ações. Até que haja uma definição precisa sobre o cenário político, a bolsa de valores deve continuar registrando bastante instabilidade.


Ontem à noite, o jornal "O Globo" informou que Joesley Batista, um dos donos do frigorífico JBS, gravou conversa com Temer na qual o presidente avalizaria o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no âmbito da Operação Lava-Jato desde outubro.


O clima no mercado financeiro local é de preocupação com os rumos da economia agora que a crise política ameaça o andamento das reformas estruturais que são vistas como essenciais para tirar o país da recessão e garantir o seu crescimento sustentável no futuro. As mudanças na legislação trabalhista e no sistema de Previdência Social devem ser no mínimo adiadas, a expectativa de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) pudesse acelerar o corte de juros diminui bastante. De uma redução de 1,25 ponto percentual na reunião do final deste mês, a aposta majoritária passou a ser de 0,25 ponto percentual.


A interrupção da aprovação das reformas estruturais não era considerada pela maior parte das casas financeiras, o que faz com que novos cenários sejam traçados. A expectativa do estrategista Luis Gustavo Pereira, da Guide Investimentos, é de que o Ibovespa possa recuar até os 50 mil pontos. Apesar do cenário de instabilidade, o estrategista-chefe da Eleven Research, Adeodato Volpi Netto, diz que o investidor que puder aguardar a estabilidade do quadro político terão oportunidades sem precedentes no mercado financeiro.


Para os analistas, a forte queda da bolsa reflete o medo de aplicar em ativos de risco em um momento de total incerteza quanto aos rumos do governo e da economia. "No curto prazo, tudo pode acontecer: uma renúncia de Temer, sua deposição, mudança na Constituição para se realizar eleições diretas à Presidência", disse Roberto Indech, analista-chefe da corretora Rico. "Momentos como o atual pedem cautela até que seja possível vislumbrar algum horizonte."


Muitos investidores se desfazem, agora, de suas posições, com medo de baixas adicionais caso mais surpresas negativas sejam reveladas ou o desfecho da crise demore. Os valores dos papéis são ajustados, então, de acordo com essa percepção de risco.


Logo pela manhã, quando o índice atingiu 10,47% de baixa, aos 20 minutos de pregão, o sistema de limitação de perdas da bolsa - conhecido como "circuit breaker" - foi acionado, e as negociações ficaram suspensas por 30 minutos. A última vez em que o mecanismo disparou foi em outubro de 2008, em meio às turbulências globais que começaram com o colapso das hipotecas nos Estados Unidos.


Os papéis conhecidos como "kit Brasil" eram comprados por investidores confiantes na retomada do crescimento econômico e na aprovação das reformas estruturais. Diante das incertezas sobre a continuidade do governo de Michel Temer e a aprovação das reformas estruturais, os investidores intensificaram as ordens de venda de ações.


A instabilidade política do Brasil fez disparar o índice de volatilidade das ações brasileiras. O CBOE Brazil ETF Volatility subia 54,27% e marcava 56,17 pontos. Esse é o maior valor em pontos registrado desde 9 de janeiro de 2011.


A crise política se estendeu também à bolsa da Argentina, que caía 3,45%, puxado pelas ações da Petrobras, que registravam queda de 3,18%.


CVM


A Comisão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia responsável por fiscalizar o funcionamento do mercado de capitais brasileiro, disse hoje em comunicado à imprensa que está monitorando o efeito das últimas notícias.


Fatos e desdobramentos da Operação Lava-Jato relacionados a companhias abertas ou outros participantes do mercado também vêm sendo analisados, segundo o documento, de acordo com os acordos de cooperação do órgão com o Ministério Público e a Polícia Federal.