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Dólar sobe 2,5% em quatro dias com exterior e incertezas locais

24/10/2017 19h00

O dólar até diminuiu a alta nesta terça-feira, mas ainda assim cravou a quarta valorização seguida, série mais longa de ganhos em quase um ano. A demanda pela moeda se manteve firme ao longo do dia, antes de ceder espaço a uma leve realização de lucros.


No fechamento, o dólar subiu 0,45%, a R$ 3,2443. É o maior patamar desde 11 de julho (R$ 3,2524). Uma cesta de moedas emergentes fora o real também caiu ao menor patamar desde a mesma data.


Em quatro dias, o dólar acumula ganhos de 2,51% ante o real. Desde novembro do ano passado a moeda não subia por quatro sessões consecutivas.


A moeda até se afastou da máxima do dia, de R$ 3,2671. Mas, de toda forma, é visível que o câmbio doméstico parece ter entrado em nova dinâmica. Previsões de taxas muito mais altas, perto de R$ 3,40 ou R$ 3,50, não estão no cenário dos analistas. Porém, cresceu a visão de que os preços anteriores, abaixo de R$ 3,20, tampouco se justificam agora. Isso porque tanto o dólar recobrou forças em todo o mundo, puxado pelo reavivamento do "Trump trade", quanto pela percepção de que as boas notícias no campo doméstico parecem já devidamente incorporadas.


Entre essas boas notícias está a expectativa de entradas de capital. De fato, entre o fim de setembro e a primeira semana de outubro o real teve desempenho melhor que seus pares emergentes, amparado pela reabertura da janela de captações externas e operações de investimento estrangeiro em empresas nacionais. O fluxo esperado ajudou a "blindar" o real do movimento de alta do dólar que já vinha se desenhando. Isso acabou deixando o real descolado de seus pares e, portanto, mais vulnerável a uma correção. Agora, dizem analistas, esse fluxo está quase totalmente nos preços, e seriam necessárias mais notícias nesse sentido para ditar alguma recuperação ao real.


Uma evidência do escasseamento do fluxo pode ser vista a partir dos números de ingresso de capital na Bovespa. No mês até dia 17, o saldo estava positivo em mais de R$ 400 milhões, mas em apenas dois dias a Bolsa sofreu retiradas totais de cerca de R$ 700 milhões, o que levou o saldo do mês a ficar negativo em R$ 239 milhões.


A menor euforia com fluxos veio acompanhada de uma piora relativa na percepção política. Amanhã a Câmara dos Deputados decidirá sobre a segunda denúncia da PGR contra o presidente Temer. A expectativa consensual do mercado é que o presidente da República obtenha apoio dos parlamentares, mas ruídos recentes entre Planalto e presidência da Câmara, além da repercussão negativa da liberação de emendas parlamentares e da falta de unidade no PSDB (principal partido da base aliada) acabaram gerando temores de que o governo precise gastar mais energias para se manter no poder. E isso atrasaria mais a retomada do debate sobre a reforma da Previdência.


"Os fatores que têm provocado essa alta do dólar não são exatamente novos, mas agora ganham outra consistência porque o mercado já precificou a maior parte dos ingressos de recursos contratados", diz Anderson Godoi, responsável pela tesouraria do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) no Brasil.


Mesmo quem mantém expectativa de real mais valorizado reconhece que a volatilidade pode se manter. O Deutsche Bank acredita que o dólar a R$ 3,10 ao fim deste ano é "compatível" com um déficit em conta corrente em patamar equilibrado (-0,6% neste ano). O economista-chefe do banco no Brasil, José Faria, vê alta gradual da moeda ao longo de 2018, ao fim do qual o dólar subirá para R$ 3,30.


"A redução do diferencial de juros, com queda de taxas aqui e alta nos Estados Unidos, provocará essa depreciação [do real]", diz. Ele lembra que 2018 tenderá a ser um ano de maior vaivém nos mercados com a aproximação das eleições presidenciais.