Ibovespa perde os 75 mil pontos com cautela externa e doméstica
Uma combinação de maior cautela do investidor com exterior, à espera de mudanças no banco central dos Estados Unidos, e com o cenário doméstico, de olho na reforma da Previdência e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), levou o Ibovespa a passar por uma correção mais forte hoje e perder o patamar dos 75 mil pontos.
O principal índice da bolsa brasileira recuou 1,55%, aos 74.800 pontos, após tocar a mínima intradia de 74.305 pontos. O volume negociado foi de R$ 8 bilhões.
O giro mais forte em dia de queda indica que o mercado local foi de fato tomado por uma força vendedora relevante. Para operadores, o primeiro fator que explica isso é o receio antes do anúncio do sucessor de Janet Yellen, presidente do Fed, banco central americano. O novo nome deve ser conhecido na quinta-feira (2), feriado no Brasil, segundo fontes. Com o evento no foco, a cautela local foi generalizada ? somente Ambev (+0,24%, a R$ 20,96), CPFL (+0,26%, a R$ 27,51) e Braskem (+11,96%, a R$ 53,25) subiram no dia.
Na liderança das altas, a empresa controlada pela Odebrecht e pela Petrobras teve o interesse pelos seus papéis renovado depois de fontes afirmarem à agência de notícias Dow Jones que a petroquímica LyondellBasell teria feito uma proposta pela companhia. Segundo um analista, depois de precificar mudanças no acordo de acionistas da Braskem, a ação volta a reagir com ímpeto a sinalizações de alterações no controle. O volume negociado foi de R$ 295,4 milhões, quatro vezes maior do que o pregão anterior.
Entre as maiores baixas, ativos de peso para o índice, como as siderúrgicas, a Vale (-0,61%, a R$ 32,35) e a Petrobras PN (-1,47%, a R$ 16,78), recuaram. "Mas mesmo com a queda de hoje, ainda vemos grande alta acumulada em alguns ativos, caso da Usiminas [-4,49%, a R$ 8,72], o que significa que há uma combinação de realização de lucros em dia de mercado mais receoso com eventos externos", diz Santos. No mês, o Ibovespa acumula alta de 0,68%; no ano, sobe 24,20%.
Além do efeito Fed, internamente, a expectativa do mercado era de que, passada a votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, o governo fosse conseguir acelerar a agenda de reformas, incluindo a da Previdência. Esse cenário, porém, não se confirmou, em grande medida por causa do estado de saúde de Temer. O atraso acaba tendo maior relevância dado o prazo apertado de que o governo dispõe para avançar em algumas decisões, dada a proximidade da disputa eleitoral.
"Ainda temos todas as suspeitas se, em quatro semanas, que é o que resta para o final do ano, vamos conseguir avançar em alguma coisa sobre a reforma da Previdência, mesmo depois de todos as sinalizações do [ministro da Fazenda, Henrique] Meirelles", diz Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.
A divulgação da ata da última reunião do Copom amanhã também se torna relevante em um momento em os investidores devem buscar sinalizações sobre a maior chance de a taxa básica de juros cair abaixo de 7%, já precificada por parte do mercado.
Outra pressão adicional vem dos investidores que querem encerrar o mês com um resultado positivo, o que acaba gerando uma onda de zeragem de posição. "Como muitos fundos multimercado ampliaram exposição à bolsa recentemente e outubro não foi tão positivo, muitos deles podem estar vendendo agora para terminar o mês ainda com um bom desempenho", explica um estrategista de renda variável. "Esse movimento pressiona os preços e leva outros agentes a fazer o mesmo."
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