Incerteza sobre Previdência faz dólar subir e bolsa cair
O mercado de câmbio enfrenta o pior dia desde o estouro da crise política em meados de maio.A cotação na máxima chegou a R$ 3,3186, mais elevado desde 3 de novembro quando - tomado pela onda de vendas de emergentes - subiu até R$ 3,3347.Apesar da articulação do governo em torno da reforma da Previdência, o pessimismo com a falta de apoio parlamentar é o que dita o mau humor nas mesas de operação.
A tensão no mercado vem desde cedo. O clima negativo foi atribuído por profissionais ao fato de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ter demonstrado em encontros com representantes de mercado menos confiança em obter os votos necessários para a aprovação da proposta. Mesmo tendo reconhecido a contribuição do PMDB e do PTB, que fecharam questão a favor da medida, o placar ainda é insuficiente para colocá-la a voto.
E o tempo joga contra a tramitação da medida. O presidente Michel Temer já teria admitido que é preciso votar a reforma ainda em 2017 porque as dificuldades aumentariam em 2018. O tom de urgência também foi interpretado em comentários de Maia à imprensa. "Nós temos no máximo uma semana, dez dias e vamos trabalhar com esse prazo para aprovar a reforma. Por mais pareça um prazo curto, precisamos trabalhar o dobro para construir condições de votar", afirmou.
Diante dos riscos no cenário, o bom comportamento do dólar nos últimos dias foi devolvido, de uma vez só, nesta quinta-feira. "O risco aumentou e foi embutido nos preços, junto com a alta do dólar no exterior", disse o estrategista de uma corretora paulista. Ele disse ainda que o salto da moeda americana se apoiou pouco em ordens automáticas para contenção de perdas ("stop loss"). "O mercado já estava com menos posições e está se apoiando mais nesse pessimismo que no técnico", acrescentou.
Por volta das 13h40, o dólar comercial subia 2,10%, a R$ 3,2987.O contrato futuro para janeiro, por sua vez, avançava 1,83%, a R$ 3,3030.
Juros
A tensão com a reforma da Previdência faz a inclinação da curva avançar nesta tarde no ritmo mais acentuado desde meados de maio, quando estourou a crise política com a delação de executivos da JBS. A distância entre o DI janeiro de 2023 e o DI janeiro de 2019 chegou a tocar a nova máxima histórica de 3,20 pontos percentuais ante o fechamento de 2,98 pontos ontem.
Os ruídos políticos ofuscaram as avaliações sobre a trajetória da taxa básica de juros, a Selic. No entanto, profissionais de mercado apontam que num cenário de maior vulnerabilidade, sem a reforma, é mais difícil enxergar a queda do juro real estrutural da economia, limitando o potencial de baixa da Selic.
Ontem, o Copom reduziu a taxa básica em 0,50 ponto percentual, a 7%, nova mínima histórica. No comunicado, a comitê apontou que, para a próxima reunião, "caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma nova redução moderada na magnitude de flexibilização monetária". Essa visão, entretanto, é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores. O Copom apontou ainda que, olhando para frente, entende que o atual estágio do ciclo recomenda cautela na condução da política monetária.
Por volta das 13h45, o DI janeiro/2019 sobe a 7,070% (7,040% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2020 avança a 8,370% (8,270% no ajuste anterior).O DI janeiro/2021 opera a 9,320% (9,180% no ajuste anterior).
Bolsa
A apreensão sobre o rumo da reforma provocou uma forte queda do Ibovespa nesta manhã. Segundo relato de operadores, investidores reduzem posições compradas na bolsa, o que explica a forte pressão em todo o mercado.
Às 13h48, o Ibovespa caía 1,16% para 72.415 pontos. Nesta manhã, o índice tocou a mínima de 71.356 pontos.
No horário, a maior alta era Embraer ON (1,89%), seguida por Raiadrogasil ON (0,23%) e Energias BR ON (0,15%).
As quedas mais expressivas ficavam por conta de Kroton ON (-4,18%), Brasil ON (-3,56%) e Usiminas PNA (-3,28%).
O que detonou essa piora, segundo operadores, foi o tom mais pessimista de Maia com os rumos da reforma.
Embora o mercado não considerasse como mais provável um cenário de aprovação do projeto, essa hipótese não estava descartada. E, ontem, chegou a crescer no mercado após o PMDB ter fechado questão a favor da reforma.
A dificuldade do governo em avançar nesse projeto pode também abrir espaço para que o mercado antecipe mais firmemente o debate sobre as eleições de 2018. Afinal, se não houver reforma agora, o mercado buscará sinais sobre a chance de o próximo governo conduzir essa agenda. E, diante dessas incertezas, os investidores estrangeiros podem reduzir ainda mais sua exposição.
Outro gestor de um fundo paulista chama a atenção para o fato de que, sem a Previdência, o Brasil pode ser novamente rebaixado o que pode ter um impacto, ainda que de curto prazo, sobre os preços dos ativos.
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