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Cautela no exterior e Carne Fraca pressionam Ibovespa; dólar tem alta

05/03/2018 14h16

A bolsa voltou ao terreno negativo nesta segunda-feira (5), influenciada pelo comportamento das bolsas americanas e pela deflagração da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que atingiu ações de frigoríficos.


Às 14 horas, porém, ensaiava uma recuperação: o Ibovespa registrava ligeira alta de 0,29% para 86.007 pontos. Nesta manhã, contudo, chegou a cair para 85.053 pontos.


As siderúrgicas, que pesavam no começo da dia, diminuíram as perdas no fim da manhã. As maiores baixas passaram a se concentrar no setor frigorífico, por conta da operação da Polícia Federal deflagrada hoje, que tem como alvo a BRF.


No horário, a BRF ON despencava 16,34%, a R$ 25,80. Foi decretada a prisão do ex-presidente da empresa Pedro Faria e de dois executivos da companhia que estão na ativa. A sede da companhia, em São Paulo foi alvo de mandado de busca e apreensão. A operação acontece em meio à turbulência provocada na semana passada pelo pedido de destituição do conselho da BRF pelos fundos de pensão Petros e Previ.


Segundo fontes, a aceleração da queda pode refletir a venda de posições por parte de fundos que têm restrição por questões de "compliance" de aplicar em empresas com problemas com a Justiça. A companhia, por ora, está na fase de investigação, mas alguns gestores podem estar se antecipando e vendendo o papel, que já perdeu 21% em um mês.


Esse movimento de reduzir exposição ou zerar posição em BRF já tem ocorrido nas últimas semanas por parte de fundos locais. E, agora, tende a se intensificar. "Nós voltamos para o 1º dia da Carne Fraca: se essas acusações forem realmente verdadeiras, a empresa vai ter dificuldades no mercado externo. Vários países vão suspender contratos de importação, impactando toda a cadeia produtiva, não só dela como do Brasil", define o gestor de um fundo paulista que zerou sua posição em BRF no começo deste ano.


JBS ON também cai com força (-5,20%), para R$ 9,48. Operadores atribuem a reação ao receio de que a empresa venha a ser envolvida também com algum tipo de investigação.


Câmbio


O dólar começa a semana com variações bastante contidas ante o real, apesar do aumento dos receios protecionistas diante das declarações do presidente americano, Donald Trump.


Às 14h07, o dólar comercial subia 0,07%, a R$ 3,2518.


Há entendimentos de que, se por um lado as chances de uma guerra comercial elevam a percepção de risco, por outro, coloca dúvidas sobre o espaço que o banco central americano tem para subir os juros.


"A volatilidade está baixa no câmbio local", diz Roberto Campos, estrategista sênior de câmbio da Absolute Investimentos. Segundo ele, se por ora o investidor não vê motivos suficientes para comprar dólar, a queda do juro a mínimas históricas barateia o custo do "hedge" cambial, "o que ajuda a limitar apreciação cambial mais forte". "Essas forças parecem estar em equilíbrio, o que acho que ajuda a explicar a baixa volatilidade", diz.


O Morgan Stanley nota que, de forma geral, gestores de fundos estão posicionados a favor de moedas emergentes e que o real é um dos destaques de apostas de alta. Os profissionais afirmam que, dadas as atuais posições, o risco "óbvio" é a exposição "overweight" (acima da média do mercado) nos portfólios atrelados ao "benchmark" dos mercados emergentes.


"Uma virada no câmbio emergente ditada pela alta dos juros reais ou por baixa nos mercados de ações poderia levar gestores a desfazer sua posição 'acima da média do mercado' nas moedas emergentes para não terem desempenho abaixo do 'benchmark'", dizem profissionais do Morgan em nota a clientes.


Juros


A mudança no discurso do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, levou o mercado a reforçar a aposta em mais algum corte de juros pelo Copom. Hoje, Ilan reconheceu que o comportamento recente da inflação e das expectativas surpreendeu a todos, inclusive a autoridade monetária. "As últimas taxas vieram mais baixas do que estávamos esperando. A inflação continua baixa e favorável", disse, em entrevista à rádio CBN.


A declaração chancela a visão de muitos investidores de que o caminho mais provável é um corte de 0,25 ponto percentual da Selic na próxima reunião do Copom, em março. A aposta agora tem cerca de 80% de probabilidade, conforme precificado nos vencimentos mais curtos dos juros futuros.


Além da fala de Ilan, alguns sinais de mudança de tom já vinham sendo notados. Em encontro com economistas na semana passada, o diretor Carlos Viana reiterou a mensagem de que, em caso de surpresa nos modelos do BC, o caminho da Selic seria de baixa, conforme relato de um dos participantes do evento. Além disso, o dirigente teria apontado que a expectativa de inflação mais relevante hoje seria a de 2018, que tem projeções até mais favoráveis que de 2019.


"O BC está inclusive alinhando o discurso para que [o corte] não seja uma surpresa", diz o estrategista de renda fixa da Renascença, Pedro Barbosa. Para o especialista, é uma mudança em relação ao cenário traçado na última reunião quando o BC indicou que seria mais adequado a manutenção da taxa básica.


A surpresa do Banco Central com a trajetória da inflação anima os investidores, que já antecipavam nova rodada de números favoráveis dos índices de preços para esta semana. Os números do IPCA de fevereiro serão divulgados na sexta-feira, dia 9. Para a equipe de pesquisa econômica do Bradesco, o indicador deve ter alta de 0,33%, com núcleos bem-comportados, indicado a ausência de pressões inflacionárias.


Olhando um pouco mais para frente, os investidores também têm reduzido o prêmio e se alinhado à visão de que os juros devem permanecer baixos por mais tempo. Sinal disso é que DI janeiro/2019, negociado a 6,465%. Já o DI janeiro/2020 cai para 7,400%.


Os vencimentos longos também revelam dinâmica positiva, o que inclui uma visão sobre o cenário externo. Para o estrategista Paulo Nepomuceno, da Coinvalores, há a leitura de o mundo pode crescer menos nos próximos anos em função de uma possível guerra tarifária envolvendo os EUA.


Já do lado doméstico, o BC do Brasil "está conseguindo trazer as expectativas de juros longos para baixo", acrescenta o especialista da Coinvalores. Isso porque iniciativas como autonomia do BC e busca apenas de meta de inflação "deixam o investidor mais calmo", acrescenta.


Para Ilan Goldfajn, é um equívoco o BC ter meta de inflação e de crescimento. "Vamos ser bem claros. Meta de inflação leva a crescimento melhor", disse à rádio "CBN". "O BC nunca deixa de olhar o crescimento. Quando se estabiliza a inflação e caem os juros, você tem benefício. O BC na sua função básica já contribui para o crescimento", afirmou.


Por volta das 14h30, o DI janeiro/2021 cai a 8,280% (8,360% no ajuste anterior), a despeito da leve alta do dólar.O DI janeiro/2023 recua a 9,120% (9,200% no ajuste anterior). ODI janeiro/2025 cede a 9,530% (9,600% no ajuste anterior).